Youth de Paolo Sorrentino
“Youth” (ou, no seu título original, “La Grande Giovinezza”) é mais uma extraordinária obra do realizador italiano Paolo Sorrentino. Depois de levantar a fasquia com o aclamado “The Great Beauty”, vencedor do óscar de Melhor Filme Estrangeiro, as expetativas estavam bastante altas para saber o que nos traria a seguir.
Em Youth, Michael Caine interpreta Fred, um compositor e maestro que, tendo já vivido a maior parte da sua vida, se questiona sobre a efemeridade da mesma e sobre aquilo que realmente deixamos para trás quando morremos. Para o ajudar nesta reflexão, uma estadia nos Alpes Suíços levam-no ao encontro de um conjunto de personagens caricatas, entre elas o seu melhor amigo (Harvey Keitel) e a sua filha (Rachel Weisz).
É a dinâmica entre Caine e Keitel que primeiramente fascina o espetador. Os dois amigos, juntos durante quase toda uma vida, partilham memórias e tentam encontrar um propósito para o que os espera na vida. Mas o que vem realmente a seguir, quando sentimos que já experienciámos tudo o que considerávamos que estava guardado para nós?
Enquanto a personagem de Michael Caine não tem intenções de pôr fim à sua carreira musical, o seu melhor amigo, um realizador de renome, está precisamente a tentar construir o seu último filme e aquele que será o seu legado quando morrer.
O filme mostra-nos da melhor forma possível as lutas de cada um com o passado, o presente e o futuro. As escolhas que fazemos moldam aquilo que somos e vivemos hoje e a escolhas que temos de fazer são cruciais para o que nos acontece no futuro.
Youth, que estreia a 3 de dezembro em Portugal depois de passar pelos principais festivais de cinema, nos quais se inclui o famoso Festival de Cannes, é um filme carregado de possíveis significados e interpretações e é também um filme que “não sai de nós” quando acaba. É fácil ficar com ele preso num pequeno canto da nossa memória e é quase inevitável querer vê-lo de novo, nem que seja pela fantástica fotografia e produção, algo habitual em qualquer filme de Sorrentino.
A narrativa, apesar de parecer lenta de início, revela-se apaixonante quando somos transportados para as memórias de Fred (Michael Caine) e para as maravilhosas construções da monumental cidade de Veneza. O elenco, ainda que não conte com nomes imediatamente conhecidos pelo público, mostra-se surpreendentemente talentoso – o monólogo de Rachel Weisz, filmado num único “take”, é prova disso mesmo; bem como a pequena (mas gigante) participação de Jane Fonda. Mas são os 30 minutos finais que nos deixam vidrados na experiência que é este Youth e é seguro afirmar que termina com chave de ouro.
Paolo Sorrentino mantém então a fasquia elevada e deixa-nos ansiosos para o que virá a seguir.
Com Youth assegura-nos que o seu trabalho não é apenas realizar filmes, mas também garantir verdadeiras experiências ao espetador.