A cabeça perdida de Damasceno Monteiro: Um clássico imperdível de Antonio Tabucchi
Um romance inquietante salpicado de mistério e um relato de um caso judicial. Tendo como background a magnífica Cidade do Porto, somos transportados para uma história arrepiante, que infelizmente se reproduz no mundo real. Esta joia literária retrata a tortura policial e como a autoridade escapa sempre impune às situações, por ser considerada uma força maior.
Não vou revelar muitos detalhes para vos incentivar a ler este livro, mas vou-vos falar um bocado sobre ele e assim despertar-vos interesse (espero).
O livro narra um terrível homicídio: um indivíduo é encontrado decapitado, Damasceno Monteiro é o seu nome. É Firmino, um jovem jornalista de Lisboa, que é responsável por desvendar este tenebroso crime. Para tal, contará com a ajuda de um excêntrico advogado: Dom Fernando, mais conhecido por Doutor Lóton – alcunha aplicada por ser parecido com o ator Charles Laughton.
Durante a leitura desta obra aprende-se muito com o advogado que, com o seu carácter observador e analista, nos faz refletir sobre diversos assuntos, até sobre nós mesmos .
Firmino e Doutor Lóton pretendem conseguir provar que Titânio Silva, mais conhecido por “Grilo Verde”, é culpado pela morte terrível de Damasceno Monteiro. O problema é que ele é sargento da Guarda Nacional e provar a sua culpabilidade será muito difícil, tendo em conta o seu posto e a sua defesa garantida…
Como disse anteriormente, Doutor Lótus dá-nos bastantes lições de vida importantes. Através das suas brilhantes citações podemos construir a sua personalidade, nomeadamente: “Os sonhos não se conseguem explicar, não se verificam no domínio do formulável (…) o tempo pode começar assim, dentro dos nossos sonhos.”- reflete sobre a sua missão de querer mudar o mundo ; “O verdadeiro problema é que não é fácil sairmos de nós próprios” – a importância que o advogado atribui aos direitos humanos; “Cada homem é absolutamente indispensável a todos os outros e todos são absolutamente indispensáveis a cada um” – faz-nos refletir sobre a importância da integração dos indivíduos; e, para traduzir o seu lado mais íntegro:
“É uma pessoa, disse, lembre-se disso meu amigo, antes de mais nada é uma pessoa.”
Antonio Tabucchi, em A cabeça perdida de Damasceno Monteiro
Antes de terminar este artigo gostaria de vos revelar algumas curiosidades sobre o livro. Começo por vos dizer que a história é baseada num episódio real que aconteceu em Portugal, dia 7 de maio de 1996. Carlos Rosa, um indivíduo de 25 anos, foi morto numa esquadra da Guarda Nacional Republicana de Sacavém e o seu corpo foi encontrado num jardim público, decapitado. As primeiras frases do discurso em tribunal do advogado Lóton são, na realidade, da autoria do filósofo Mario Rossi . E, para vos dar a conhecer um pouco sobre o autor, Tabucchi atribuiu o nome Damasceno Monteiro à personagem porque é o nome de uma rua de Lisboa onde o escritor italiano morou.
Recomendo vivamente este livro, é simplesmente incrível. Destaca-se pela sua história, pelas suas personagens, pelo espaço… por tudo. Antonio Tabucchi nunca desilude. Acredito também que é sem dúvida necessário ler este livro, pois ajuda-nos a abrir os olhos para determinados assuntos, e relata uma história verídica. É importante sermos conscientes do que se passa à nossa volta para combatermos as injustiças que surgem.
É urgente sermos mais humanos.
Fonte da capa: Constança Crespo
Artigo revisto por Julia Gibelli
AUTORIA
21 anos, de Lisboa e de Madrid, tem duas grandes paixões: a moda e a escrita. Vaidosa é o seu nome do meio, confessa. Sempre quis trabalhar em algo relacionado com a moda, como vir a formar parte de uma agência - seria um sonho! Considera-se uma escritora a tempo inteiro, pois, para além de devorar livros, gosta de deixar escritos os seus pensamentos e reflexões, tanto que até tem a sua própria conta de textos. Ser portuguesa e espanhola diz muito da sua maneira de ser, uma grande personalidade dizem, ou não fosse ela do signo Leão ;). No terceiro ano de Relações Públicas & Comunicação Empresarial, afirma que não podia estar num curso mais compatível com ela, é mesmo a sua praia. A sua cor preferida é o cor-de-rosa e o seu filme favorito o Dirty Dancing - sim, é uma romântica incurável.