À conversa com Old Jerusalem
Depois de um período de interrupção desde o último álbum, editado em 2011, Old Jerusalem (projeto musical de Francisco Silva) regressa aos discos com “A Rose Is A Rose Is A Rose”, o sexto trabalho editado.
“A Rose Is A Rose Is A Rose” apresenta uma versão de Old Jerusalem mais expansiva, ainda que sempre centrada na atenção às canções e à forma eficaz e agradável de as comunicar ao ouvinte. Este disco conta com a parceria de colaboradores habituais (como o produtor Paulo Miranda e o baterista Pedro Oliveira) e os contributos de músicos e técnicos que trabalham pela primeira vez em disco com o projecto (Filipe Melo no piano, Nelson Cascais no contrabaixo, as colaborações pontuais de Petra Pais e Luís Ferreira, dos Nobody’s Bizness, na voz e guitarras, respectivamente, o quarteto de cordas de Ana Pereira, Ana Filipa Serrão, Joana Cipriano e Ana Cláudia Serrão, bem como o trabalho de misturas de Nelson Carvalho e de gravação de Luís Candeias e João Ornelas).
A ESCS MAGAZINE esteve à conversa com o músico que nos contou um pouco mais sobre o seu recente trabalho musical.
Como é que começou a tua carreira musical?
Old Jerusalem: Desde cedo que tenho um interesse em música. Inicialmente, mais como consumidor, como ouvinte, mas a partir de um certo ponto comecei a ter curiosidade como é que se fazia [música]… Comecei a explorar, aprendi a tocar guitarra e entrei naquele percurso normal, de bandas de garagem. Houve um ponto em que comecei a idealizar uma forma de fazer canções mais sérias e nessa altura houve um contacto com uma editora independente do Porto e aí é que as coisas começaram mais a sério, porque encontrei um núcleo de pessoas que tinham basicamente a mesma visão, a mesma perspetiva, o mesmo gosto, o mesmo interesse em fazer as coisas e fazê-las com algum cuidado. E foi aí que começou, ao início como um hobbie. E continua a sê-lo, na prática, porque não vivemos da música essencialmente, mas a verdade é que também somos profissionais; pagamos impostos. (risos)
De onde surgiu a tua inspiração para escrever músicas e, mais tarde, produzir álbuns?
Old Jerusalem: Surgiu essencialmente do meu gosto musical. Eu acho que a maior parte dos músicos começa a fazer música porque quer copiar o efeito que a música tem nele, quer replicar aquilo e fazê-lo à sua maneira. Mas também há uma dose de querer emular os nossos ídolos, emular a vida musical. E claro, ter aquela veleidade de fazer objetos artísticos, de ser artista. Acho que a fonte principal é a própria música. Depois, claro, há muitas coisas que nos inspiram também: há a literatura, há a vida, há muita coisa…
Depois de um período de interrupção desde o último álbum, editado em 2011, regressas aos discos com “A Rose Is A Rose Is A Rose”. Como foi o processo de criação deste último albúm?
Old Jerusalem: Este álbum foi um bocadinho diferente dos que fiz até hoje, porque começou logo, na génese, com a ideia de ampliar o leque de músicos. Em particular, trabalhar com um músico que tinha conhecido uns tempos antes, o Filipe Melo, que tem um background mais ligado ao jazz, mas que apreciava o que Old Jerusalem fazia e eu era fã de várias coisas que ele fazia e faz, ainda. Ele faz banda desenhada, realiza vídeos e filmes, e eu conhecia o percurso dele, embora não o conhecesse a ele, e acompanhava. Portanto a génese foi essa ideia de colaborar com o Filipe e ver onde é que isso depois, criativamente, iria levar as minhas canções. As canções já existiam, mas queria ver onde é que elas chegariam com a intervenção dele, o que acabou por trazer a colaboração de outros músicos. E, portanto, [o álbum] foi-se desenvolvendo muito mais em parceria do que os outros discos, que eram muito mais virados sobre mim.
Visto que no álbum de 2011 assumiste integralmente a composição e interpretação do disco, este trabalho “A Rose Is A Rose Is A Rose” contou com algumas colaborações, como a de Filipe Melo. Como foi trabalhar com ele?
Old Jerusalem: Foi muito fácil, ele é um músico excelente. Além disso, é uma pessoa muito interessante: tem muitos interesses, falamos muito de muitas coisas e ele, sendo bastante interventivo, tendo opiniões muito firmadas, está sempre aberto a debate, a ter feedback, a gerar conversas e isso facilita muito o processo de trabalho. Aquilo que poderia gerar conflitualidade, na verdade, gera conversa. E isso foi muito interessante, foi muito agradável e por isso facilitou imenso que conseguisse chegar ao final do trabalho.
Como defines “A Rose Is A Rose Is A Rose”?
Old Jerusalem: É difícil, porque eu não penso nos discos como um todo, como uma mensagem, como um programa. Posso dizer que o título referencia um princípio que é: cada coisa tem a sua natureza e é bom cumpri-la e não querer ir contra ela. E porquê? Porque notei que em vários momentos de várias canções do disco, de forma inadvertida porque não foi programado para ser assim, há a descrição de circunstâncias que focam esse ponto, de respeitar a natureza das coisas. Portanto acho que o disco acaba por ter como mote circunstancial essa questão de cada coisa ser o que é.
De que forma é que este último álbum se distingue de “Old Jerusalem”?
Old Jerusalem: A essência é a mesma. No fundo, na matriz, na raiz, o primeiro disco e este (o primeiro se calhar um bocadinho mais ingénuo porque era mais novo) são essencialmente iguais; as canções não sofreram assim uma convulsão. Mas a verdade é que são muito diferentes: no anterior eu tinha decidido fazê-lo só eu e sou o único interveniente nesse disco. Portanto, obrigatoriamente as soluções encontradas, o teor, as características técnicas, tudo isso está condicionado por esse facto de que sou só eu. Coisa que não acontece neste álbum. Eu ouço este disco como uma coisa que é exterior a mim. Há uma diferença de cores. Há mais cores do que no anterior.
Para terminar, quais são os projetos/planos para o futuro?
Old Jerusalem: (risos) Está sempre tudo em aberto, é verdade. Quer dizer, Old Jerusalem vai viver sempre da existência de canções. Enquanto me interessar escrever canções há potencial para que Old Jerusalem continue. Eu tenho canções. Mas não sei, vamos ver… Posso vir a fazer um disco muito em breve, posso não vir a fazer mais nenhum disco ou pode demorar, outra vez, 5 ou 6 anos a fazer o próximo disco. Não sei ainda o que é que quero fazer com aquelas canções que tenho, e depois vou escrevendo… Mas isso não é novo, sempre fui assim de disco para disco, por isso está em aberto.
Como disse Francisco Silva, ou melhor, Old Jerusalem, o futuro está em aberto, mas se quiseres ver e ouvi-lo ao vivo ele estará no dia 2 de Abril, na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa; no dia 8 de Abril, no Maus Hábitos, no Porto; e no Teatro Gil Vicente, em Barcelos, no dia 16 Abril. Para mais informações, podes sempre visitar a página oficial do músico no facebook .