A Magia do (Não) Movimento
Nos tempos correntes, (quase) todas as animações cinematográficas são produzidas de forma digital, isto é, com a ajuda de computadores, de sensores de movimento e de programas de edição de imagem. Mas muito antes do aparecimento da animação em duas e três dimensões, existia um tipo de animação que acho particularmente curioso e do qual vos vou falar no meu artigo deste mês!
“Stop Motion” é o nome da animação em causa e nasce do registo fotográfico contínuo de ínfimas manipulações de objetos físicos. De certeza que já sabem do que estou a falar! “A Ovelha Choné: O Filme” é um dos múltiplos exemplos cinematográficos existentes atualmente.
Mas… como se dá este processo?
Tomemos “A Ovelha Choné: O Filme” como exemplo. Podemos admitir que tudo começa a partir de um guião onde todas as falas e movimentos das personagens estão detalhadamente descritas. Este guião é transformado num esboço, um conjunto de painéis desenhados que servirá de guia para o posterior processo fotográfico.
Após a teoria, surge a prática! O futuro desta animação está então nas mãos da equipa artística que, para além de criar todos os elementos que compõem os cenários – desde os maiores, como infraestruturas e árvores, aos mais pequenos, como os insetos, flores ou pedras -, é também responsável pela criação de todas as personagens e das suas múltiplas expressões corporais e faciais. Isto quer assim dizer que para uma só ovelha existem dezenas de possíveis troncos, membros, olhos, bocas e orelhas que darão origem a uma imensidão de expressões! É também importante destacar que todas as peças são feitas à mão através de arame e silicone moldável – que oferecem um movimento natural sem deformar o aspeto da personagem.
A última parte do processo cabe então ao animador que irá posicionar e fotografar as personagens no cenário previamente montado. Entre cada fotografia, ou mais corretamente cada frame, o animador irá mover ligeiramente a figura de maneira a que o conjunto das fotografias nos dê a sensação de movimento. Por norma, a cada 25 fotografias é criado um segundo de animação! Isto quer dizer que este filme, que tem a duração de 85 minutos, é composto por 130 mil fotografias na sua totalidade! É um trabalho deveras demorado e que requer especial cuidado, pois o mínimo deslize na movimentação da figura poderá custar horas de trabalho!
Mas como será possível extrair movimento de algo estático como a imagem?
A resposta a esta pergunta reside num processo de ilusão de ótica. Ao ser-nos apresentada uma sequência de imagens (A, B, C, D…), o nosso cérebro irá fixar a imagem atual (A) e, ao mesmo tempo que a seguinte imagem aparece (B), a imagem A vai desvanecendo-se da nossa memória, dando lugar à imagem B. Desta maneira, não nos é possível identificar os intervalos entre imagens, pois o nosso cérebro, de maneira inconsciente, interliga-as entre si.
Que filmes posso encontrar com a animação Stop Motion?
Para além do filme que utilizei como exemplo, existem uns quantos a considerar.
Do mesmo estúdio de “A Ovelha Choné: O Filme” – Aardman Animations Studio – surge também “A Fuga das Galinhas”, “Os Piratas!”, “A idade da Pedra”, entre outros.
Tal como “O Estranho Mundo de Jack”, também a “Noiva Cadáver” e “Frankenweenie”, de Tim Burton, foram feitos totalmente a partir deste tipo de animação que parece encaixar perfeitamente com o tipo de universo que este realizador nos propõe em cada um dos seus filmes!
Por último, creio que é também importante destacar a qualidade cinematográfica que nos foi deixada com os filmes “Coraline” e a mais recente adaptação do livro “O Principezinho”.
Onde posso descobrir mais acerca deste processo?
Para os mais curiosos, deixo aqui um dos vídeos mais interessantes que encontrei, referente ao filme d’“A Ovelha Choné”. Nele podem ver, de maneira prática e explicada pelos próprios diretores, produtores e animadores, tudo aquilo que eu vos tentei transmitir ao longo do meu artigo! Desfrutem!
E o artigo fica por aqui! Espero que tenham gostado de conhecer mais acerca deste tipo de animação e que vos tenha suscitado a curiosidade e o interesse suficiente para uma pesquisa mais autónoma! Vídeos, tal como aquele que recomendei acima, são uma excelente forma de descobrir mais acerca deste minucioso trabalho e, claro, melhor que ver os vídeos só mesmo ver os filmes que não deixo, de todo, de recomendar.
Artigo redigido por Rita Silva
Artigo revisto por Miguel Bravo Morais
Fonte da imagem de capa: Paris Review