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A mais breve história dos sismos em Portugal

Estava o país a almoçar tranquilamente quando a terra começou a tremer. O sismo do dia 17 de fevereiro, que atingiu uma magnitude de 4,7 na escala de Richter, durou apenas alguns segundos, mas foi o segundo num espaço de meses – e o suficiente para que muitos entrassem em sobressalto.

Sustos como o deste dia recordam a possibilidade de um novo desastre no país, como o que aconteceu em 1755. Mas, afinal, que sismo foi este? Que outros sismos atingiram Portugal Continental desde então? E estará o país preparado para uma atividade sísmica de maiores dimensões?

O passado: os terramotos de 1755, 1969 e 2024

Um dos sismos mais mortíferos da História – e cujos fantasmas pairam ainda sobre a sociedade portuguesa – aconteceu no dia 01 de novembro de 1755.

Neste dia santo, que ficaria marcado pela morte de mais de 10 mil portugueses, Lisboa sofreu um tremor de terra, um tsunami e múltiplos incêndios.

Contam os relatos da época que a terra começou a tremer por volta das 09h30. Os abalos foram sentidos pela população durante duas horas e meia. As ondas do tsunami chegaram a atingir os 20 metros e engoliram tudo o que encontraram. O fogo dos incêndios só se apagou ao fim de cinco dias.

Os eventos deste fatídico dia resultaram na destruição quase completa da cidade, sobretudo na zona da Baixa. Os sismólogos estimam que o sismo provocador da catástrofe tenha atingido magnitudes entre os 8,7 e os 9 na escala de Richter.

O epicentro do sismo não é conhecido com precisão, mas sabe-se que a sorte – ou talvez o destino – fizeram com que o Secretário dos Negócios Estrangeiros não estivesse entre os mortos. O pragmatismo do Marquês de Pombal foi essencial na reconstrução da capital portuguesa. Mandou “enterrar os mortos e cuidar dos vivos” e ergueu a cidade das ruínas.

Na arquitetura, a ação do Marquês foi revolucionária, ao planear grandes praças e avenidas largas. Os edifícios construídos foram dos primeiros a contar com proteções anti-sísmicas.

O terramoto de 1755 deu origem aos primeiros estudos científicos sobre os efeitos de um sismo numa área alargada e fez nascer a sismologia moderna. Não foi, no entanto, o único a espalhar a morte e a destruição.

Sentido a 28 de fevereiro de 1969, um sismo de magnitude superior a 7 na escala de Richter causou danos graves na região do Algarve.

Com um epicentro a 230 quilómetros do sudoeste de Lisboa, este sismo cortou as telecomunicações e o fornecimento da energia elétrica, fez 13 vítimas e destruiu casas.

Imagens do sismo de 1969
Fontes: ZAP Notícias
Imagens do sismo de 1969
Fontes: CM Albufeira

Abalos deste sismo foram reportados em países vizinhos. O sismo gerou também um pequeno maremoto que passou despercebido pela população – dada a hora da sua ocorrência.

Despercebido também passou, pelo menos para alguns, o sismo de agosto de 2024.

Na madrugada do dia 26 de agosto, um sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter foi sentido um pouco por todo o país, tornando-se, assim, num dos sismos mais sentidos nos últimos 60 anos em Portugal. Apesar de não ter causado danos, reacendeu a discussão sobre a atividade sísmica em Portugal – e se o país está (ou não) preparado para um cenário de catástrofe.

O futuro: estará o país preparado para um sismo de maiores dimensões?

Portugal está localizado numa zona de elevada atividade sísmica, devido à sua proximidade com uma falha tectónica. Embora não seja uma zona crítica, quando acontecem, os sismos podem ter graves consequências.

Após o sismo do passado mês, Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal, quis passar uma mensagem de tranquilidade à população. Relembrou que os serviços da Proteção Civil estão atentos e que Portugal tem um sistema de controlo e alerta de tsunamis. Lembrou também que foi feita uma revisão do plano de emergência do município e que os pontos de encontro podem ser consultados no site da autarquia.

As mensagens dos especialistas não são tão reconfortantes. À CNN Portugal, o professor catedrático do Instituto Superior Técnico e especialista em risco sísmico, Francisco Mota de Sá, relembrou que a posição geológica do país é “perigosíssima e deveria causar grande preocupação”. Um sismo de maior magnitude pode, na opinião do especialista, trazer graves consequências a Lisboa.

Susana Custódio acredita que a solução passa pela educação. A sismóloga, professora e investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa disse, num episódio do podcast P24 do Público, que “é complicado manter o investimento quando as pessoas não sentem sismos todos os dias”. E que, apesar de o caminho até aqui ter sido positivo, “ainda há muito a fazer”.

A complexidade dos sistemas naturais não permite prever onde – nem quando – vai acontecer o próximo sismo. É importante, portanto, manter uma atitude de vigilância e procurar estar informado em relação ao que fazer caso a terra volte a tremer.

Imagem de Capa: O Globo

Corretor: Carolina Ferreira