Opinião

A segunda emenda

Este artigo é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

O Donald Trump não é boa rês. Noutras notícias o céu é azul, a relva é verde e o Sócrates não é engenheiro. Os comentários do Presidente aquando o tiroteio na escola da Florida geraram alguma polémica, ao que parece. Trump gostava de que os docentes passassem a estar armados, como resposta ao incidente. Estou de acordo com o magnata – quando o Menino Tonecas disparar bolas de cuspo por uma palhinha contra um professor, que outro recurso que não a execução imediata pode existir?

Esta obsessão americana pelas armas de fogo é velha como tudo e nasce basicamente de uma interpretação antiquada da 2ª emenda da Constituição Americana de 1789. No tempo em que a arma mais potente era um mosquete, sabem. Duvido de que Washington e amigos contassem com a criação da espingarda automática AK-47. “The right of the people to keep and bear arms” pode, se esticarmos que chegue, incluir um míssil balístico, por exemplo.

Sei que Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, dois dos pais fundadores dos Estados Unidos e seres possuidores de uma inteligência assustadoramente anormal, estão a dar voltas na campa.

 Ao que parece, não bastou a absoluta mentira de que a América foi alicerçada em princípios cristãos. Uma bela afirmação que se refuta a si mesma, já que a primeira emenda da Constituição estabeleceu uma separação fulcral entre Igreja e Estado e foi o embrião que criou todos os restantes países laicos a nível mundial.

Thomas Jefferson defendia uma constituição fluida e porosa, capaz de se atualizar consoante os ventos da mudança. Se este soubesse que o povo americano continuava a seguir a segunda emenda à letra, Jefferson certamente vomitaria.

Outros argumentos relacionados com a posse de armas e a regulação das mesmas podem ser debatidos e julgados com relativos graus de validade, mas este apelo à constituição é ridículo. Trata-se apenas um escudo de defesa dos políticos, incapazes de alterar seja o que for por estarem nos bolsos de organizações, como a National Rifle Association.

Os republicanos estão-se nas tintas para os pais fundadores – constantemente deturpam e falseiam as escritas dos mesmos de forma a servir uma agenda ideológica. É o pão nosso de cada dia da direita americana.

Uma coisa vos garanto – tal como Jesus Cristo, se Jefferson fosse vivo teria votado no Bernie Sanders.

AUTORIA

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João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.