Cinema e Televisão

After: depois de um filme ultrajantemente irrealista

Uma imagem com pessoa, mulher, sentado, interior

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Screen Rant

Antes de mais, devo dizer que não li nenhum dos livros em que o filme foi baseado. Por isso mesmo, talvez a minha crítica não faça jus às obras de Anna Todd.

Como sempre fui uma directioner ferranha, tive curiosidade em ir ver o After (https://www.youtube.com/watch?v=VgLgH85y6rk). Quando era mais nova, ainda estive para ler a fanfic, mas na altura já estava tão extensa que nunca cheguei a concretizar esse plano. Também não excluo a ideia de um dia ler os cinco livros que daí surgiram. O facto de a personagem principal ser inspirada no Harry Styles (têm aqui uma Harry girl) e de as restantes serem baseadas nos outros membros dos One Direction contribui bastante para o despoletar do meu interesse.

Para os mais perdidos, uma fanfic é, basicamente, uma narrativa ficcional escrita por fãs que se baseiam nos seus ídolos para adaptarem as personagens da história que redigem (também podem usar personagens que sejam 100% fiéis a quem idolatram). Esta fanfic foi escrita por Anna Todd, uma norte-americana que utilizou o Wattpad (plataforma grátis usada para escrever histórias) para dar azo à sua criatividade. Por sinal, aquilo que compôs desde 2013 tornou-se a história mais lida desta app. Hoje, com 30 anos, Todd detém o título de “Maior fenómeno literário da sua geração”, atribuído pela Cosmopolitan.

A narrativa centra-se na vida de Tessa Young, uma rapariga que acaba de entrar para a faculdade para tirar o curso de Economia. É Josephine Langford quem a interpreta, a irmã mais nova da protagonista de 13 Reasons Why (Katherine Langford). A australiana de 21 anos contracena com Hero Fiennes-Tiffin, ator e modelo da mesma idade, no papel de Hardin Scott (Harry Styles na fanfic, mas o nome teve de ser alterado por questões legais).

Pelo que consegui entender, as personagens dos One Direction são retratadas como Hardin (Harry), Noah (Niall), Zed (Zayn) e Landon (Liam). Ainda estou para perceber o paradeiro do Louis no filme! Hardin é o interesse amoroso de Tessa; Landon é o seu melhor amigo e meio-irmão de Hardin; Zed é um dos seus conhecidos, e Noah é o seu ex-namorado.

Quando chega à faculdade, Tessa partilha o quarto com Steph, a sua primeira amiga. Festeira e rebelde, tenta desde logo levar Tessa para caminhos diferentes daqueles que percorrera até então. Tessa começa a soltar-se, deixando de ser a menina acanhada e certinha do início do filme.

Numa das festas a que Steph a leva, Tessa conhece Hardin. É a típica festa americana em casa de alguém, cheia de alunos, bebida e jogos. Um desses jogos é o clássico “Verdade ou Consequência”, em que os pombinhos são desafiados a beijarem-se. Contudo, não foi o dia de sorte de Hardin. Mesmo assim, ficou fixado em Tessa, maioritariamente por ter sido rejeitado, algo que nunca antes fora.

Depois de algum tempo a resistirem um ao outro, acabam por ficar juntos, ignorando o facto de Tessa ter namorado. A rapariga acaba por traí-lo, e nenhum dos envolvidos mostra qualquer tipo de remorso. Quando descobre a verdade, Noah, agora ex-namorado, reage da forma mais natural possível: “Olha, acontece, nós crescemos e mudamos.” O que é isto?

Uma imagem com árvore, exterior, pessoa, relva

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Roger Ebert

Todo este filme é cliché, irrealista e básico. O diálogo entre as personagens não cativa minimamente. Os acontecimentos são completamente ficcionais e não representam em nada aquilo que aconteceria na vida real. No filme, a mãe de Tessa, pura e simplesmente, deixa de lhe falar depois de apanhar a filha com o novo namorado. As duas cortam relações, e, para além disso, a progenitora deixa de pagar as propinas. Qual foi a solução? O novo casal foi viver para um apartamento (relembro que devem ter por volta de 18/19/20 anos) pertencente a uma senhora que estava de férias por tempo indeterminado.

After normaliza a traição. Retrata uma personagem que tem ataques de raiva e que se torna violenta de forma descontrolada. Tem um fio condutor completamente acelerado e sem sentido. É banal e deixa muito, mas mesmo muito a desejar.

É o cliché da menina nerd que devora livros e vive na sua bolha, que se apaixona pelo primeiro bad boy misterioso em que pousa a vista assim que chega à faculdade. Ambos com um passado complicado, apaixonam-se pela confusão um do outro. Mas claro, no fundo, ele é um idiota que no início só queria impressionar os amigos. Depois arrepende-se e ela perdoa-o. Juntos, formam um casal disfuncional, típico de uma história sem conteúdo.

O que mais me choca no filme é a forma como tornam tudo aceitável. Não pude deixar de pensar nas meninas que irão ver o mesmo que eu vi, com a diferença de que eu sei distinguir o certo do errado. Em After, é normal que Tessa tenha traído o namorado, porque ele era “aborrecido”; é normal que mãe e filha virem costas de um dia para o outro, é normal que seja exercida pressão social; é normal objetificar a rapariga virgem e inocente; é normal aceitar o rapaz com explosões de raiva incontroláveis.

Espero que os livros sejam de longe melhores que o filme, porque para mim foi só mesmo uma perda de tempo. Fiquei chocada por ser tão fraquinho, tão vazio e tão expectável. Não gastem o vosso dinheiro para irem ver o filme, porque das duas uma: ou saem de lá arrependidos, como eu, ou são uma menina de 12 anos. Acho que nem a minha versão de 12 anos ia gostar deste filme. E sim, ela gostava muito de romances e clichês.

Artigo escrito por Mariana Coelho

Artigo revisto por Daniela Costa

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