Amor em Pó
Sem dúvida alguma que não há nada mais santo do que o amor. Em Fevereiro, o S.Valentim enfeitiça dois indivíduos (discriminemos o poliamor) e em Junho aparece o Santo António e casa-os entre sardinhas e manjericos. Eu não sei quanto a vocês, mas eu acho que isto é andar depressa demais. Só devia haver dia de Santo António pelo menos dois anos depois de cada S.Valentim. Isto assim é uma espécie de speed dating santo.
Se era suposto um santo ter o seu dia no dia dos namorados, ajudava que esse não fosse o Valentim. E não proponho como alternativa que se passe a chamar dia de S.Major. Era bom que fosse algo que lembrasse o amor. Também não tenho nada contra as Urracas ou as Diamantinas, mas estes nomes não estariam no topo das minhas escolhas para este dia.
O lado mais depressivo do dia dos namorados é ver as pessoas solteiras deprimidas como se só fossem solteiras naquele dia. Mas ainda é mais depressivo ver que há pessoas que fazem disto um problema. Não me entendam mal: o amor é positivo. Mas não ter a oportunidade de usufruir de algo positivo não é necessariamente sinónimo de viver uma situação negativa. Por exemplo, o facto de não sair o Euromilhões ao Alexandre Soares dos Santos não faz dele pobre e quase que aposto que ele não suspira de inveja quando vê que a maquia saiu algures.
Confesso que as declarações públicas de amor sempre me incomodaram. Há muitas pessoas que acham que o S.Valentim é dia de dizer ao mundo: “olhem tão enamorados que estamos”. Eu julgava que o mais importante era a outra pessoa saber, mas há quem pense que todos temos de ficar informados sobre o quanto “o pantufinhas” dela ama a “petinguinha” dele.
Outra coisa que me preocupa no amor é o excesso de glicose. Morangos, chocolate ou chantili – todos eles alimentos associados ao amor. Já no Natal, a época da família e do amor, também devoramos tudo o que é doce. Parece que há uma incompatibilidade qualquer entre um arroz de cabidela e luz das velas. Se é diabético, não ame. Fica o conselho.
AUTORIA
O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.