Amor, vingança e pedras preciosas
“Tudo o que ficou para trás” é literalmente uma história de princesas e ladrões. Leva-nos a Jaquir, paraíso quente e opressor na Arábia, mas também a Nova Iorque, a Inglaterra e ao México. Fala-nos de paixão, vingança e pedras preciosas, e arrebata-nos da primeira à última linha.
Acompanhamos o crescimento da Princesa Adrianne, filha do intolerante Rei Abdu e da ex-estrela de Hollywood Phoebe Spring. Com uma infância complicada e muitos traumas, Adrianne vai crescer com o desejo de vingança no coração, o desejo ardente e antigo de conseguir de volta O Sol e A Lua, um dos colares mais valiosos do mundo e seu por direito. Apesar de este desejo determinar toda a sua vida, Adrianne vai também encontrar um homem, como podemos sempre esperar de Nora Roberts, Philip Chamberlain, que ameaça roubar-lhe o coração. São personagens profundas e complexas cujo passado e destino temos o prazer de desintrincar ao longo do livro.
Nas páginas deste livro, que foi publicado nos Estados Unidos em 1988 com o título “Sweet Revenge” mas só em Novembro de 2014 chegou às nossas bancas, encontramos belas mulheres, muito fortes, que lutam com unhas e dentes pelos seus princípios e pelo que, e quem, amam. Phoebe pela filha, Adrianne pela mãe, Philip por Adrianne e pela própria mãe… São os casos mais marcantes que nos tocam o coração. A família (principalmente a relação mãe-filho/a mas também a família mais alargada, mesmo a que existe do outro lado do oceano e aquela que não se conhece ainda) e a amizade (a amizade mais forte, que sobrevive ao longo de anos e anos, à distância, quase sem contacto) são valores-chave nesta obra, que vão guiar as personagens nas suas acções. Não tão determinantes mas também bastante falados são a vaidade, a ambição e a avareza.
A cultura árabe é profundamente explorada ao longo do livro, com um pormenor impressionante. Desde as roupas, luxuosas e exuberantes, às regras rígidas que proíbem os homens de tocar em qualquer mulher que não seja da sua família, à poligamia que é permitida ao rei e à preferência dos rapazes em detrimento das raparigas, visitamos essa forma de vida tão diferente da nossa e vemos como pode ser difícil para um ocidental.
Impressionante é também a forma como é retratada uma profissão muito pouco ortodoxa: a de ladrão. A escritora descreve cada assalto de “Sombra”, um dos ladrões mais implacáveis do mundo e perseguido pela Interpol, ao pormenor: desde os planos, à ansiedade, à expectativa, os truques, a paixão; descreve a subida pelo exterior de um prédio, a abertura dos cofres, a sensação de segurar nas mãos pedras de valor incalculável e o processo de venda.
A escrita é muito fácil e agradável de ler, quase poética (“O amor há muito secara, mas a fonte continuava a jorrar” – p. 34) e é muito fácil imaginar o ambiente, as pessoas, tudo, como se nós próprios estivéssemos a viver as peripécias.
“Tudo o que ficou para trás” é então um livro magnífico, mais indicado para o público feminino, que nos proporciona algumas agradáveis horas noutro mundo. A história é apaixonante, com momentos de forte suspense, de humor e de emoção, levando-nos a voltar à leitura sempre que temos oportunidade e a ansiar por o fazer quando não temos. Apesar de alguns acontecimentos bastante graves e chocantes, consegue não ser um livro triste e pesado. Antes pelo contrário. Só o posso aconselhar.
AUTORIA
A Inês Rebelo tem 19 anos e está no primeiro ano de Jornalismo.
Começou a ler com 4 anos e a escrever as suas criações com 9, sendo que foi sempre esta a sua grande paixão. Fez teatro durante oito anos, gosta de ler e, embora não interesse a ninguém, tem três tartarugas. Também gosta de cantar, mas para isso não tem muito jeito. Na ESCS MAGAZINE integra as equipas de Correcção Linguística e de Literatura, e escreve com o Antigo Acordo Ortográfico.