Música

As Grandes Vozes Femininas da Música Portuguesa

Ao longo das últimas décadas a música portuguesa tem sido palco de artistas que desafiaram fronteiras e reinventaram melodias, deixando um legado que continua a influenciar as novas gerações. Dos primórdios do fado à sua fusão com o pop e o rock, estas mulheres deixaram uma marca incontornável não só na música nacional, como também na cultura portuguesa. 

Seria impossível falar sobre música portuguesa sem começar por Amália Rodrigues.

A sua voz inconfundível, aliada ao seu poder de interpretação e de performance, fizeram da artista um ícone da cultura musical do país. Temas como Ai Mouraria, Uma Casa Portuguesa e Povo que Lavas no Rio fizeram com que Amália conseguisse projetar a música nacional para além das fronteiras do país, estabelecendo-se como um padrão de excelência para muitos artistas, mesmo nos dias de hoje. O seu impacto foi tão forte e generalizado que até artistas e músicos fora das paredes do fado a citam, ainda hoje, como referência e fonte de inspiração.

Se Amália era a alma da música portuguesa, com a sua profundidade emocional e ligação autêntica ao fado, Simone de Oliveira representava a força da música, usando-a de forma destemida para transmitir uma mensagem.

Fonte: Público

Com o seu impacto na luta pela liberdade de expressão durante o regime, Simone tornou-se um símbolo de resistência e de coragem – uma figura que marcou uma geração de músicos e abriu caminho para uma música mais consciente. Foi em 1969 que ganhou o Festival da Canção e levou Desfolhada à Eurovisão. Inspirada numa obra do poeta Ary dos Santos (que frequentemente escrevia para Amália), esta canção, à época, chocou a moral mais conservadora da sociedade e abalou as convenções de um regime que já caminhava para o fim. O carisma e o carácter de Simone marcaram uma geração e inspiraram outros artistas a não terem medo de abordar temas fortes e controversos da sociedade.  

Mais tarde, já no novo milénio, Mariza trouxe uma nova vitalidade ao som nacional. Álbuns como Fado em Mim e Transparente renovaram o género musical, misturando influências modernas com a tradicionalidade do fado, atraindo toda uma nova geração de ouvintes. A sua presença nos palcos internacionais ajudou a consolidar a música portuguesa como um símbolo e uma força cultural no mundo, introduzindo o fado a um público global.

Fonte: NiT

Seguindo os passos de Mariza, Ana Moura provou que a música tradicional pode dialogar com outros estilos musicais sem perder a sua identidade, explorando novos sons. Com colaborações de renome internacional, como Prince e Rolling Stones, a artista transformou o fado num espaço mais fluido e híbrido. As suas músicas mostram esta fusão de géneros, levando o fado a novos territórios sonoros (e geográficos), aproximando ainda mais diferentes audiências da música portuguesa. 

Com um profundo respeito pelo legado nacional, Carminho é uma das vozes mais autênticas da atualidade. Mais recentemente, o seu álbum Portuguesa conquistou louvores nacionais e internacionais. A música O Quarto integrou a banda sonora do filme nomeado para Óscares Pobre Criaturas e apareceu até na lista de “canções mais ouvidas do verão” do antigo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. A artista destaca-se pela forma como honra a tradição sem a deixar estagnar, trazendo ao fado uma abordagem mais intimista e sensível, que lhe confere uma nova dimensão.

O Quarto – Carminho (do filme ‘Poor Things’)

Para além do domínio do fado, outras vozes femininas ajudaram a transformar o panorama da música portuguesa. Marisa Liz, dos Amor Electro, traz uma energia vibrante à música, misturando sons modernos com um forte apego às raízes culturais do país. Com temas como A Máquina e Guerra Nuclear (ft. António Variações), evoca uma força interpretativa destemida, reminiscente da antecessora Simone de Oliveira.

Já Sónia Tavares, dos The Gift, com o seu estilo único e presença marcante, levou a música alternativa portuguesa a outro nível. À semelhança de Ana Moura, a sua capacidade de reinventar o som português modernizou o fado e trouxe novas texturas à música nacional, sem perder o dramatismo e a expressividade que a caracterizam.

Fonte: Expresso

O impacto destas artistas vai muito além dos estilos e géneros musicais que representam. A ousadia e a intensidade interpretativa unem estas gerações de mulheres, mostrando que a música portuguesa continua a evoluir sem perder a sua essência. O futuro da música portuguesa continuará a ser moldado por estas e outras vozes, que, cada uma à sua maneira, redefinem o que significa ser artista em Portugal. Estas artistas provam que a verdadeira essência da nossa música não se limita a certos músicos ou géneros musicais, mas reside na sua capacidade de emocionar, interagir e criar laços com o público português, que, mesmo longe e com saudades, veem nas suas músicas um consolo à alma. 

Fonte da Capa: Contacto

Artigo revisto por Leonor Almeida

AUTORIA

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Embora esteja (ligeiramente) mais perto dos 30 do que dos 3, a Beatriz nunca passou da idade dos porquês. A sua curiosidade inata é o que a faz interessar-se por mil e um temas, podendo ficar horas a falar sobre qualquer assunto (se não a mandarem calar). Não troca nada deste mundo por um bom café acompanhado de uma conversa que a faça pensar. Entrou para a ESCS Magazine com o desejo de reavivar a paixão pela escrita, algo que cultiva desde a infância, e para continuar a satisfazer o seu amor por conversas intermináveis, agora traduzidas em texto.