Desporto

Racismo, rejeição, superação: conheça o atleta Eugene Campbell

Eugene Franklin Campbell III, mais conhecido por Eugene Campbell, é um jogador de basquetebol norte-americano que está atualmente a serviço da MBA (Montijo Basket Associação). 

O base, de 26 anos, nasceu em Carteret (Nova Jérsia), onde jogou aos níveis escolar e universitário. Antes de chegar a Portugal, Campbell teve também uma passagem pelo Northland Basketball Team, da Moldávia, e pelo Gyumri, da Arménia.

A ESCS Magazine entrevistou o atleta, que partilhou diversos aspectos da sua vida profissional e pessoal.

Como tudo começou

Com dois jogadores na família, Eugene explica que o basket sempre fez parte da sua vida: Comecei a jogar muito jovem. O meu pai e a minha irmã eram jogadores de basket: a minha irmã jogou no ensino secundário e na universidade, e o meu pai jogou no ensino secundário; então o basket era algo normal em minha casa”.

Após ser questionado sobre se o basket sempre foi o seu sonho, Campbell revela que tinha também interesse em outras modalidades: Não, não era (a primeira opção)… Eu gostava de beisebol também.

Um início turbulento

A professora e a escola em que eu estava não gostavam da cor da minha pele”.

Fonte: Eugene Campbell, via WhatsApp

Apesar de ter jogado beisebol quando era mais novo, o atleta explica como o racismo prejudicou a sua jornada neste desporto e, mais tarde, o levou ao encontro com os cestos: O beisebol não funcionou porque fui expulso do meu time por causa das notas. E não era por causa das notas, era porque a minha professora não gostava de mim. A professora não gostava da minha cor de pele e da escola em que eu estudava também, então ela disse aos meus pais que eu estava reprovando na aula. E eu não estava, eu tinha um B (16 valores). Então, os meus pais me tiraram do time de beisebol e comecei a jogar basket”.

Em busca de um novo começo, Eugene também encontrou obstáculos no seu início na modalidade: “Eu não entrei para a equipa no meu primeiro ano do secundário. Eles disseram-me que eu não poderia jogar porque não era bom o suficiente. Os jogadores que faziam parte da equipa não eram tão bons quanto eu, mas o treinador tinha seus favoritos, então eu não entrei. Foi isso que me motivou a jogar basket a sério: eu fui rejeitado, e não gosto de rejeição. Então usei-a para trabalhar duro durante o verão e tentei outra vez no ano seguinte, entrando para a equipa.

Primeiros passos como profissional

Após concluir o seu período académico, e não ter feito parte de nenhum Draft da NBA (principal liga de basket dos Estados Unidos e do mundo), o base seguiu em busca de um novo desafio dentro do desporto: Terminei os meus estudos e fiz mestrado em psicologia. E depois de terminar a faculdade, fui direto para a Moldávia, na Europa, onde joguei o meu primeiro ano de basket no estrangeiro”.

Chegando à Europa, Eugene Campbell teve as suas primeiras experiências profissionais ao vestir as camisolas do Northland Basketball Team, da Moldávia, e do Gyumri Falcons, da Arménia. Apesar de curtas, as passagens permitiram a Campbell obter grande destaque, de modo a alcançar números impressionantes, além do posto de All-star da liga da Arménia. Sobre a sua passagem na Moldávia, o jogador admite: Fui o melhor marcador do país. Eu tinha uma média de quase 40 pontos por jogo, durante o tempo em que estive lá. Foi um desempenho de destaque. Houve um jogo em que eu marquei 57 pontos. Foi o melhor jogo que eu fiz”.

Chegada a Portugal

Após a sua passagem pelo leste europeu, Eugene encontrou o seu novo desafio, desta vez em terras lusitanas.

Fonte: Eugene Campbell, via WhatsApp

Ao serviço da MBA, desde o início de 2022, o atleta relata que tem apreciado a experiência na sua nova casa, e ressalta o potencial do desporto português: Portugal é um país novo, bom para jogar basket. Eu tenho alguns colegas que, felizmente, jogaram basket e eles disseram-me que era um bom sítio para a minha carreira. Então eu dei uma chance, e não me arrependo, porque gosto das pessoas, da equipa… e é ótimo aqui, eu adoro”.

Apesar de ser apenas o começo da sua carreira em Portugal, Campbell deseja contribuir o máximo possível para o basket nacional, sobretudo no clube em que está, utilizando recursos da sua terra natal para desenvolver o desporto: Eu quero obter um passaporte português, e vejo que há um grande potencial no basquetebol (em Portugal), especialmente no Montijo. Eu quero retribuir. Na verdade, tenho muitos patrocínios: dois de marcas de roupas, o patrocínio de uma empresa de produtos para a barba, além de dois patrocínios de bebidas esportivas. Então, quero ajudar a cidade, quero voltar (no futuro) e quero ajudá-los a participar em torneios. Eu também planeio, talvez um dia, comprar uma propriedade aqui, e apenas ajudar a comunidade com as conexões que tenho nos EUA. Porque o basquetebol tem muito potencial em Portugal, mas não tem muitos recursos, principalmente nesta cidade; e sinto que poderia trazer os recursos que tenho nos Estados Unidos para ajudá-los”.

Inspirações e aspirações

Questionado sobre a sua maior inspiração no basket, o jogador ressalta a importância de Paul Pierce, que, mesmo sem ser um dos nomes mais badalados, representa um exemplo de superação e esforço, características que para Campbell são indispensáveis: Eu sou um adepto do Celtics – não sei se vocês conhecem o Boston Celtics – e o meu jogador favorito de todos os tempos é Paul Pierce. Sempre fui um grande fã, ele é definitivamente um modelo para mim no mundo do basket, porque era alguém que você não via como o melhor jogador, mas fez grandes coisas e trouxe um campeonato para o Celtics. Eu sempre fui um ‘azarão’, vocês sabem, crescendo na minha carreira no basket, e meio que admiro ele porque era um ‘azarão’ que ganhou o campeonato: venceu Kobe Bryant em um campeonato. Isso não é fácil de fazer, especialmente naquela época, em que Kobe Bryant estava em seu auge”.

Eugene comenta ainda sobre os seus anseios para os próximos anos como jogador, expressando o seu desejo de continuar crescendo, explorando novos países e, quem sabe, alcançar os grandes palcos europeus: “Quero continuar subindo nas ligas e quero, eventualmente, ir para a EuroLiga e jogar para mostrar ao mundo o meu talento. Eu só tenho de continuar trabalhando. Este é apenas o começo. Comecei a minha carreira no exterior, em 2021, então faz apenas um ano, e já joguei em três países. Só tenho de continuar subindo e continuar trabalhando duro”.

Sobre suas pretensões de regressar a casa, Campbell manifesta interesses que vão além de atuar nas quadras: “Quero voltar para casa e fazer acampamentos de basket para crianças. Eu quero ir para diferentes escolas e falar com as crianças sobre a minha jornada – explicar como não foi fácil e mostrar que se você quer chegar ao próximo nível, tem de trabalhar duro. Quero inspirar todos e as minhas comunidades”.

Basket fora dos EUA

O contraste entre o célebre basket norte-americano e o europeu foi comentado pelo atleta, que sugere soluções para que o desporto cresça e tenha uma influência semelhante à dos Estados Unidos: “É preciso comercializar mais o basket, porque eu vejo o quão forte é o mercado para o futebol. Talvez devessem se concentrar no marketing do futebol também, porque esse é o maior esporte do mundo, mas deveriam dar mais atenção ao marketing do basket. Claro que quem chama a atenção principal é sempre o futebol e todos os outros desportos ficam deixados de lado. Então eles deveriam comercializar melhor as modalidades. Não só basquetebol: tudo. Comercializar um pouco melhor e talvez trazer mais alguns jogadores da América, ou de outros países onde o basket é mais popular. Estes podem ajudar a trazer mais atenção para isso, felizmente”.

Ao refletir sobre a sua carreira até o momento, Eugene Campbell mostrou-se contente com tudo o que tem vivido e contou a importância de explorar países com culturas completamente diferentes à qual estava habituado:Muitas pessoas na América estão acostumadas a fazer as coisas de uma certa maneira e só assim, ir para outro país, me fez ter outras perspetivas, ver outras culturas. É definitivamente uma experiência crescente. Definitivamente algo que eu precisava de experimentar”.

Ademais, o atleta norte-americano reforçou a mensagem que tenta transmitir aos outros – superação: “Nunca desista. Nunca é tarde para realizar os seus sonhos; quero inspirar as crianças, porque elas são o futuro. Eu quero dizer-lhes que, não importa o que aconteça, haverá muitos obstáculos no seu caminho na jornada, então apenas permaneça fiel a si mesmo. Nunca desista”.

Fonte da capa: Eugene Campbell, via WhatsApp

Artigo revisto por Daniela Leonardo

AUTORIA

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Incapaz de ficar parado por muito tempo, o Lucas sempre teve o desporto como parte fundamental da sua vida. Desde que viu pela primeira vez as emoções, adrenalinas, alegrias e, por vezes, tristezas que só o desporto é capaz de proporcionar, soube que era isto que queria para si. Quer seja a praticar, falar ou, neste caso, a escrever, o Lucas e o desporto são inseparáveis desde sempre.

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Apaixonada pela escrita, a Heloísa acredita que, em sua nada humilde opinião, as palavras são a nossa inesgotável fonte de magia. Através da sua escrita inspirada, ela traz à magazine a fusão daquilo que considera ser a sua paixão: comunicação e informação.