Beautiful Boy – O poder de 2
Beautiful Boy pode só ter estreado em Portugal na passada quinta-feira, 29 de novembro, mas desde a sua estreia, em terras americanas em Setembro, que os burburinhos de Óscares rodearam o filme baseado em 2 biografias. Ao vê-lo entende-se o porquê.
O filme, realizado pelo belga Felix van Groeningen, conta a história de David Sheff após saber que o seu filho, Nic Sheff, é toxicodependente. Assim mostra a forma como essa revelação afeta a relação entre ambos e relata ainda a luta contra a toxicodependência que Nic enfrenta. O pai é interpretado por Steve Carrell e o filho pela estrela revelação do filme “Call Me By Your Name” (https://escsmagazine.escs.ipl.pt/call-me-by-your-name/),Timothée Chalamet.
Tendo esses dois grandes nomes no elenco principal, seria de esperar que ambos desempenhassem os papéis de forma tão sublime. Steve Carrell continua a mostrar a todos que consegue desempenhar papéis dramáticos, tendência já evidenciada em filmes como Foxcatcher e A Derradeira Viagem (https://escsmagazine.escs.ipl.pt/leffest-o-comeco-d-a-derradeira-viagem/), mas mostra agora que isto não pode ser considerado como mera sorte. Já Timothée Chalamet mostra uma vez mais que merece uma nomeação para Óscar, senão até ser o premiado, algo que não conseguiu no ano passado. São as atuações de ambos que carregam o filme às costas. Sem elas, o filme perderia muito valor, uma vez que possui algumas falhas graves.
Nic Sheff(Timothée Chalamet) e David Sheff (Steve Carrell)
Beautiful Boy, sendo baseado em 2 livros de memórias, “Beautiful Boy” de David Sheff e “Tweak” de Nic Sheff, acaba por ter uma dualidade na sua narrativa: aborda quer a visão do pai sobre a toxicodependência de Nic, assim como a visão de Nic sobre a sua situação. O filme, como tem que balancear ambas as visões, acaba por não ter tempo para desenvolver a narrativa de forma totalmente profunda, criando uma certa distância entre o espetador e o ecrã. Face a isso, este distanciamento leva a que se demore a sermos absorvidos pela ação e a aborrecermo-nos durante os momentos iniciais. Mas, quando isso acontece, a narrativa não cansa de nos surpreender pela positiva.
Além disso, o filme desperdiça de forma brutal a atriz Maura Tierney, a quem é pedido muito pouco para fazer como madrasta de Nic. Nos poucos momentos que lhe são providenciados, a atriz deslumbra-nos com a sua interpretação, conseguindo fazer-nos acreditar na sua ligação com Nic numa cena que sem dúvida deveria ter aparecido mais cedo no filme e tido mais destaque. Se não fosse por Maura Tierney, o que se queria transmitir nessa cena poderia passar despercebido a muitos, mas agora só alguns é que não o vão entender.
Karen Barbour (Maura Tierney) e David Sheff (Steve Carrell)
Outro dos aspetos onde falha é na utilização de flashbacks, que, apesar de necessários para a história, não conseguem transmitir a relação entre David e Nic de forma tão intensa quanto esperado. Apenas quando Steve Carrell e Timothée Chalamet aparecem juntos em cena é que realmente acreditamos nessa conexão entre pai e filho que o filme tentava vender.
Concluindo, o filme, apesar de ter algumas falhas, não deixa de mostrar a toxicodependência de forma impactante. Se não for por outra coisa qualquer, pelo menos que seja visto pelas atuações brilhantes de Steve Carrell e Timothée Chalamet, que não merecem sair da temporada de prémios que se avizinha sem pelo menos uma nomeação.
Artigo corrigido por Rita Serra