Ceder para Vencer
Cheio de orgulho mas ao mesmo tempo cheio de timidez. Contente mas sempre com a dúvida de que poderia ter mais e chegar mais longe. Emocionado por contar a história, acabou por ir buscar as medalhas ao quarto e trouxe-as para a sala onde as pôs em cima do sofá. Exibidas à luz do dia pareciam muito mais brilhantes do que o normal. Aquelas medalhas são a vida dele, significam o esforço e a dedicação que teve durante estes anos todos. Sentou-se ao lado delas e começou a organizá-las, como se cada uma representasse algo diferente: no fim, levantou-se do sofá, olhou para as medalhas e emocionou-se.
Uma arte tão bela que existe há tanto tempo. Muitas pessoas não sabem o que é ou comparam-na ao karaté, mas é muito distinta: é uma arte que se descreve pela sua beleza. O que importa não é a violência nem a força, mas sim a técnica, a agilidade e a rapidez. Não são apenas os homens que a praticam mas as mulheres também. Treinam para saber defender-se e ainda dizem que conseguem dominar completamente os homens. Dá uma certa vantagem já que acabam por ficar ao mesmo nível que os homens.
Sérgio é uma figura de superioridade e a sua sabedoria transparece logo de início. Tenta ensinar a todos os jovens, mulheres e homens, que o procuram para poderem lutar. Mostra inteligência e conhecimento numa arte tão complexa. Não fica apenas pela prática da teoria mas também treina com os seus alunos para poderem ter a sensação de que estão a evoluir e melhorar os movimentos adequados. Técnica atrás de técnica, os alunos ouvem e seguem as instruções. Sérgio Vita de Morais está em Lisboa há mais de 10 anos e ensina esta arte tão única e tão peculiar.
Praticar um desporto tem muitas razões e várias vantagens. O que importa é a dedicação e os objetivos que se tem para poder seguir em frente e chegar ao topo. Muitas pessoas treinam para poder ter um passatempo depois do trabalho ou dos estudos, outros treinam como maneira de emagrecer e outros treinam para chegar ao topo.
“Sou o Dulcidio Fernandes, mais conhecido por Dú Moreno”
A rotina de Dulcidio é simples. Sai do trabalho e vai diretamente à academia Vita Team, em Carcavelos, onde encontra o mestre Sérgio Vita e os seus colegas. Para ele, não é apenas um puro divertimento, a competição acaba por significar tudo. Dá para perceber na maneira dele de falar que significa tudo para ele e para a vida da família que sustenta. Um olhar tão cheio de objetivos e um sorriso tímido como se estivesse com alguém que lhe quisesse exibir a vida. O jeito dele de ser mostra tantas certezas e tantas metas que acaba por nos puxar para dentro e a conversa nunca mais acaba. Os sonhos são tantos e as razões são tão pessoais.
Quando está em casa da mãe sente um conforto que não se consegue explicar. É como se sentisse protegido. Falar da vida e do passado acaba por ser uma má recordação que ficou para trás. Sente uma vontade inexplicável de proteger aqueles que ama.
“Eu sou um homem de muita fé!”
O jovem angolano pratica jiu-jitsu desde 2009. Dulcidio tinha uma vida difícil e um irmão mais velho que era uma má influência. Andava em confusões na rua e ia parar à esquadra até que foi preso. Ele sempre foi uma pessoa muito ligada à família, e passou imenso ao ver que a mãe sofria de abuso físico pelo próprio pai. Depois de se terem separado, Dulcidio começou a sentir a necessidade de proteger a mãe, não ir pelos mesmos caminhos que o irmão mais velho e sentir-se bem consigo mesmo. Foi então que procurou uma maneira de sair das ruas, dos conflitos e a procura de uma vida melhor.
Há anos que dedica a sua vida a este desporto. Começou pela piada e pelo facto de querer uma distração, mas quando começou a competir tudo mudou. A vontade de vencer era algo que não lhe saía da cabeça. Uns anos depois de ter começado a competir foi pai pela primeira vez e viu-se obrigado a ficar em casa e cuidar da família. A vontade de sair pela porta fora e ir competir já não era uma opção, ou pelo menos tinha de estar reduzida a metade. A determinação dele era poder dar aquilo que não teve e fornecer o melhor possível à mulher e aos filhos. Como se já não fosse suficiente, em 2012 teve gémeos e a vida dele acabou por se complicar um bocado. Já não podia competir quando quisesse e tinha de trabalhar para poder cuidar da família, já que dependia dele. Isso não o fez parar, até hoje, com 27 anos, Dulcidio está na luta para poder encontrar uma empresa que o queira financiar para ele poder continuar nas competições e ser campeão. Mesmo estando na quarta posição à nível nacional com cerca de 30 medalhas, quatro taças e 16 diplomas, Dulcidio continua com a vontade de chegar longe e ser campeão mundial.
A Arte de Vencer
O Jiu-Jitsu é literalmente uma arte de vencer a brutalidade com suavidade. É uma arte que se baseia no princípio de ceder para vencer e de utilizar técnicas que permite que uma pessoa fraca se defenda perante uma pessoa mais forte. A luta tem como objetivo alcançar a defesa, mas não pela violência e sim pelo controlo e pela inteligência que cada movimento tem.
Os treinos começam realmente quando os atletas se separam numa dupla e praticam os movimentos técnicos. Uns acabam por ser mais rápidos e mais ágeis e outros mais lentos. Cada movimento tem o seu próprio detalhe, cada mão tem o seu próprio lugar e cada pé a sua própria posição. Seja no chão ou de pé, ambos adversários têm a missão que é dominar o outro. Quando um empurra o outro e parece estar a cair, este mantém o seu equilíbrio recuando. Parece que estão presos ao chão até um cair e tomar controlo. Quando uma dupla não consegue com sucesso um movimento, recomeçam de novo até conseguir. Todos mostram estar, ao mesmo tempo, num estado tranquilo mas de total concentração em que todos tentam dominar o seu oposto.
“O jiu-jitsu, para mim, é competição!”.
Quando Dulcidio compete pode-se ver a garra que tem no olhar. Com tantos anos de experiência, é de facto uma arte vê-lo a lutar. A violência não está presente, mas as técnicas estão. Cada movimento tem o seu detalhe minucioso, cada respiração evita ao máximo o esforço e cada olhar transmite um desejo de lutar. Um desejo de querer mais, de chegar longe e de dar o impossível à família de que ele tanto cuida.