Cinema Surrealista – 100 anos de Surrealismo
Foi há 100 anos que André Breton, escritor e poeta francês, publicou o Manifesto Surrealista. Esta obra serve como ponto de partida para o Surrealismo, movimento literário e artístico, que passa pela pintura, fotografia, cinema, etc. Este movimento foi desenvolvido entre as duas Grandes Guerras e procurou temáticas provenientes do sonho e da imaginação, com o objetivo de fugir à realidade e provocar a sociedade, renegando os valores culturais e éticos da altura.
“O Surrealismo pode-te divertir, pode-te chocar, pode-te escandalizar, mas uma coisa é certa: não serás capaz de o ignorar” – André Breton, 1936
O Cinema Surrealista ficou marcado pela sua abordagem com narrativas instáveis e imagens chocantes, onde se procurava explorar desejos proibidos e valorizar o mundo irracional do inconsciente, suportado pelo método da psicanálise desenvolvido por Sigmund Freud.
É em 1928, quatro anos depois do seu surgimento, que o movimento se estreia na sétima arte com La Coquille et le Clergyman (A Concha e o Clérigo), filme dirigido por Germain Dulac, diretora e argumentista francesa, e escrito por Antonin Artaud, escritor e ator francês. O filme narra a história de um clérigo que se apaixona por uma mulher, onde este é caracterizado como um homem obsessivo e alvo de gozo por parte das mulheres.
Esta temática feminista trouxe reações muito divergentes por parte do público no seu dia de estreia, causadas pelo histerismo masculino, e não se sabe ao certo o que aconteceu na sala de cinema. Existem vários boatos sobre aquele dia, onde uns dizem que Artaud no fim criticou a cineasta e a chamou de “vaca“, pois o filme não foi de acordo com a sua escrita; outros dizem que foi um grupo de surrealistas que criticou Dulac. De qualquer das maneiras, La Coquille et le Clergyman ficou marcado na história como o início do cinema surrealista e como uma grande obra para o cinema feminista.
No ano seguinte, surge a curta-metragem, Un Chien Andalou (Um Cão Andaluz), dirigido pelo realizador espanhol Luis Buñuel e escrito com o artista Salvador Dalí. Esta colaboração surge em 1928 com o convite de Buñuel a Dalí para a realização da curta-metragem, contudo, a ideia inicial não se reflete na obra final, pois Dalí apenas aceita o convite sob a condição de ser ele a escrever o guião do filme e sob a seguinte regra: as imagens e as sequências não poderiam ser de todo racionais nem seguir qualquer lógica. Luis Buñuel aceitou e Un Chien Andalou estreou-se em França a 5 de junho de 1929, numa sessão privada, na qual se encontravam artistas como Picasso, Le Corbusier e André Breton.
O trabalho de Buñuel e Dalí, é considerado uma obra-prima na transposição do pensamento criativo surrealista para a grande tela e ficou marcada logo pelas primeiras imagens – de sofrimento humano e putrefação – que deixaram os espetadores perturbados e em estado de choque.
“Un Chien Andalou foi o filme de puberdade e morte que eu cravei em pleno coração da Paris espirituosa, elegante e intelectual, com toda a realidade e agudeza de um punhal ibérico.” – Salvador Dalí, 1929
É um ano mais tarde, em 1930, que é publicada a primeira longa-metragem de Buñuel, também em co-direção com Dalí, L’Age D’Or (A Idade do Ouro). Este filme assinalou uma grande polémica graças à forte crítica à mentalidade burguesa da altura e aos dogmas da Igreja Católica, que levou à censura do filme nas salas de cinema durante mais de 50 anos.
Os anos foram se passando e mais filmes surrealistas surgiram como: Le Sang d’un Poète (Sangue de um Poeta), de Jean Cocteau; Spellbound, de Alfred Hitchcock; Smultronsället (Morangos Silvestres), de Ingmar Bergman; Viridiana, de Luis Buñuel; e La Montaña Sagrada (A Montanha Sagrada), de Alejandro Jodorowsky.
Quase 100 anos depois do lançamento do primeiro filme surrealista, as grandes obras deste movimento continuam a ser restauradas e descobertas pelas novas gerações, relembrando o seu peso e importância.
Fonte da capa: Canto dos classicos
Artigo revisto por Beatriz Morgado
AUTORIA
O Henrique tem 19 anos, é de Lisboa e está agora no seu primeiro ano de licenciatura no curso de Audiovisual e Multimédia. A sua cabeça passa a maioria do tempo no mundo das artes, sendo um apaixonado pela pintura, a música, o cinema e a moda. Com a ESCS Magazine espera partilhar aquilo que mais gosta, informando o público, e sobretudo despertando nele o interesse por estas áreas.