Artes Visuais e Performativas, Editorias

Dar vida à morte – O processo de Tim Burton

Desde Bettlejuice a Edward Mãos de Tesoura, é evidente que Tim Burton já chegou às nossas vidas de uma maneira ou de outra. Apesar do seu grande reconhecimento como realizador de filmes, Timothy William Burton é um dos maiores artistas plásticos contemporâneos. 

A exibição Tim Burton, no Museu de Arte do Condado de Los Angeles, dispõe de mais de 700 desenhos, pinturas, fotografias, maquetes, peças de imagens em movimento, roteiros, entre muitos outros projetos que definem o artista. É lá que se reúne toda a rica imaginação e obras alucinantes do artista, que refletem perfeitamente a sua retrospectiva. 

Entrada da Exposição, Fonte: My Modern Met

Desde cedo que o artista se sentia alienado das pessoas que o rodeavam, na sua terra natal, Burbank. Era uma criança particularmente calada, quieta e com gostos diferentes dos restantes. Para combater a solidão, encontrou alegria no Teatro Cornell, onde passava os seus dias a ver filmes antigos de monstros, com atores como Vincent Price e Christopher Lee, que iriam mais tarde participar nos seus filmes. Foi através destas influências e a passar a maior parte do tempo sozinho que começou a explorar a sua criatividade. É através do sketching que consegue pensar e organizar as suas ideias, afirma o artista.

Eu não era um comunicador muito verbal durante a minha infância, então [desenhar] era uma forma de comunicação para mim.” – Tim Burton.

Enquanto estudava artes na universidade da Califórnia e trabalhava como animador para a Disney, a sua identidade como artista começou a florescer. Durante este período, alguns dos componentes da sua arte destacaram-se, como a criação de personagens estilo criatura, o uso de máscaras, modificações corporais e a exploração do relacionamento entre a infância e a vida adulta. 

Alguns dos temas recorrentes dos seus projetos são: criaturas que se transformam, seja a nível físico, emocional, ou ambos; crianças peculiares, que navegam pelo mundo e tentam fazer sentido da vida adulta; o encontro entre criaturas e humanos e a aceitação do que é considerado estranho ou diferente. Pode-se dizer que, considerando o que viveu quando era criança, Burton utiliza a sua experiência pessoal como guia dos enredos que cria. 

Em termos de estética, a sua arte caracteriza-se pelo expressionismo, por um conjunto de elementos arrepiantes e por uma seleção cuidadosa da paleta de cores, dependendo do que pretende criar e transmitir.

Criação da Noiva Cadáver.
Fonte: Fotografia de Gary Welch, paleta de Joana Ramalho

A paleta de cores do filme Noiva Cadáver é predominantemente azul e cinzenta. Esta paleta foi escolhida de uma forma cuidadosa. O azul faz ligação com as personagens que se encontram mortas, enquanto o cinzento prevalece no mundo dos vivos, um mundo sem cor e animação. Nas cenas que se passam dentro do mundo dos mortos há várias cores quentes que se destacam, ao contrário do que se vê no mundo dos vivos. Tim Burton vê na morte uma oportunidade de juntar o humor e criar uma nova perspectiva em relação ao fim da vida.

O Estranho Mundo de Jack, cena de Natal.
Fonte: Fotografia de Disney Wiki, paleta de Joana Ramalho

No filme O estranho mundo de Jack, a paleta de cores apresenta uma mistura de azul, pretos e vermelhos. Ao longo de todo o projeto, existe um contraste entre as cores de Jack, um esqueleto natural do mundo do Halloween, e do cenário natalício em que a personagem se insere.

Através de materiais como papel, massa de moldar, objetos reciclados e arame, Tim Burton transforma vários desenhos bidimensionais em esculturas tridimensionais, que, além das suas obras individuais, se encontram nos seus filmes stop-motion.

Sketch de Edward Scissor Hands.
Fonte: New York Times
Sketch de Sally.
Fonte: Den of Geek

É importante mencionar a junção de vários elementos nestas obras, que se traduzem em linguagens visuais de díspares períodos históricos. Odilon Redon, pintor francês da era do simbolismo e do pós-impressionismo, era conhecido por transformar o mundo natural em visões sombrias e fantasias invulgares. Foi uma das influências de Burton, não apenas a nível simbólico mas também no estilo de linhas, formas e cores que o artista escolhe utilizar.

O Expressionismo Alemão é a grande inspiração a nível da criação de cenários e principalmente de personagens, com características físicas alongadas, escuras, com círculos à volta dos olhos e um aspecto desgastado e “morto”. No entanto, a arte de Burton é inigualável e inovadora. Através da junção do obscuro e da comédia, Burton cria obras que nos fazem ter uma perspetiva diferente do horror e do invulgar. 

Smiling Spider – Odilon Redon
Fonte: Artchive
Erich Heckel, Beim Vorlesen, 1914
Fonte: Artnet
Robert Wiene, Das Cabinet des Dr. Caligari, 1920
Fonte: Alamy

AUTORIA

+ artigos

Joana, natural de Vila Franca de Xira, decidiu aos 19 anos estudar jornalismo, como uma oportunidade de descobrir novas histórias e explorar mais sobre o mundo. A arte é um grande componente na sua vida, o que a motiva a escrever sobre o universo dos traços e das cores na ESCS Magazine. Hoje, já no seu último ano do curso, pretende avançar como jornalista multimédia e criar projetos que puxem pela sua criatividade.