De erva daninha a nobel da literatura
Desenhador de Palavras: José Saramago
“Saramago, s. m. nome vulgar de umas ervas daninhas, comestíveis, anuais ou bienais, da fam. das Crucíferas, frequentes nos terrenos cultivados em Portugal, e também chamadas rábano-silvestre, rabano-bastardo ou saramago-maior e cabresto.” (in 5º edição do Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)
A alcunha do pai serviu de nome para o filho, porque o funcionário do registo assim o entendeu. Descendente de José de Sousa e Maria da Piedade, José de Sousa Saramago nasceu no dia 16 de novembro de 1922, em Azinhaga, embora esteja registado como tendo nascido dois dias depois, para escapar a uma multa por desrespeito ao prazo legal de registo.
Ribatejano de berço, o escritor nasceu numa família de “camponeses sem terra”, que migrou para a capital. Até aos seus 13-14 anos nunca soube o que era ter uma casa exclusivamente para si e para os seus pais.
Aluno de excelência, fez a 3ª e a 4ª classes no mesmo ano. No entanto, por causa das dificuldades financeiras dos pais, foi obrigado a ingressar no ensino profissional. Durante 5 anos, aprendeu o ofício de serralheiro mecânico e nos dois anos que se seguiram trabalhou nesta área numa oficina de automóveis. Foi nesta altura que começou a “frequentar, nos períodos nocturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender”, que o seu amor “pela leitura se desenvolveu e apurou.” (Saramago).
Muitos foram os ofícios experimentados. Depois de ter trabalhado como mecânico, foi administrativo na Segurança Social. No final dos anos 50, após um período em que esteve desempregado, começou a trabalhar na editora “Estúdios Cor”, enquanto mantinha como ocupações paralelas a tradução e a crítica literária. Quando deixou a editora, em 1971, foi para o Diário de Lisboa como editor e coordenador de um suplemento cultural. De abril a novembro de 1975 chegou mesmo a ser director-adjunto deste vespertino. Na sequência das alterações provocadas pelo golpe político-militar (25 de novembro de 1975) foi despedido. Neste mesmo ano, publicou “1993”, um longo poema que assinala a época.
A escrita começou, nesta altura, a ganhar outra relevância na sua vida. Desempregado, dedicou o seu tempo à literatura. Em 1980, publicou o romance “levantado do chão”, que caracteriza o nascimento do seu modo particular de narrar. Vários foram os títulos que se seguiram; a década de 80 foi exclusivamente dedicada ao romance: “Memorial do Convento” (1982), “O Ano da Morte de Ricardo Reis”(1984), “A Jangada de Pedra” (1986), “História do Cerco de Lisboa” (1989).
Galardoou o governo português com o seu desprezo, após este ter censurado o seu livro “Evangelho segundo Jesus Cristo”, impedindo-o de participar no Prémio Literário Europeu, por considerar a obra insultuosa para os católicos. Assim, em 1993, Saramago fez as malas e mudou-se com a sua mulher, Pilar del Rio, para a ilha de Lanzarote, no arquipélago das canárias.
O ano de 1998 trouxe-lhe reconhecimento. José Saramago foi premiado com o Prémio Nobel da Literatura. A partir desta data, o autor começou a dar conferências pelo mundo fora, participou em reuniões e congressos, não apenas literários, mas também políticos e socias. Focou-se na defesa dos direitos humanos e lutou por uma sociedade mais justa. Em 2008, a Fundação Saramago, em Lisboa, abriu as portas com o objectivo de promover “a defesa e a divulgação da literatura contemporânea, a defesa e a exigência de cumprimento da Carta dos Direitos Humanos, além da atenção que devemos, como cidadãos responsáveis, ao cuidado do meio ambiente”(Saramago).
SARAMAGO nasceu espontaneamente e foi muitas vezes indesejado. Nunca se adaptou ao clima, mas floriu. Murchou, no dia 18 de Junho de 2010, mas germinou uma praga de ideias.