Duas mulheres num mundo de homens
“Maria, Rainha dos Escoceses” é um retrato histórico de duas mulheres que lutaram para manter o seu poder. Rodeadas de conspirações, traições, intrigas e rebeldias, Maria e Elizabeth tiveram de viver uma vida sem que alguma vez pudessem confiar em alguém.
Maria Stuart é uma recente viúva, vinda de França diretamente para a Escócia. Aqui, ela reclama o trono que é seu por direito, mas que até ali era ocupado pelo seu meio-irmão James. Uma mulher admirada pela sua beleza, bondade e coragem, cuja vida é dificultada constantemente. A verdade é que Maria tenta manter o seu poder vivo num mundo governado por homens. Mas não está sozinha. Do outro lado do mar está a Inglaterra, também ela governada por uma mulher, Elizabete I. Este drama retrata assim a luta destas duas mulheres pelo poder, capazes de renunciar a sua própria natureza e vontade em prol do seu país. Este amor obrigava-as a viver uma vida assombrada pelo medo de conspirações, rebeldias e de guerras, que as poderiam retirar dos seus preciosos cargos. É uma história de amor pouco comum: são mulheres que viveram o amor carnal de uma forma limitada e breve, mas que lutaram com uma convicção profunda e com um sentimento de sacrifício pelo seu país que nunca conseguiram nutrir por nenhum homem. Entre as intrigas políticas e religiosas – o confronto entre o catolicismo e o protestantismo –, Josie Rourke, a realizadora, escolheu também explorar temas controversos, como a homossexualidade e a violação no casamento, de uma forma discreta, apesar de as cenas sexuais serem comuns.
Este filme de época conta com a participação de duas grandes atrizes que dão força às personagens e, no fundo, a todo o filme. Margot Robbie, que interpreta a Rainha Elizabeth I, e Saoirse Ronan, que interpreta Maria, são os pilares deste filme. Contudo, esta película peca pelo seu ritmo. Com uma duração de aproximadamente duas horas, a ação é apenas pontual e difícil de entender em certos momentos para aqueles que não conhecem a história de Maria e Elizabeth. Ainda assim, sendo um filme baseado na obra biográfica de John Guy, os acontecimentos retratados contam com uma veracidade digna de aplauso. Para aqueles que assistem pela primeira vez a este enredo os acontecimentos podem ser surpreendentes, com sangue derramado onde menos se espera e traições frequentes.
O filme que estreou no passado dia 17 de Janeiro é uma boa aposta para uma tarde de domingo, tanto pelo retrato destas duas mulheres inspiradoras, como pelos jogos de poder em que elas se envolvem. Um filme que discute religião, sexualidade, luta de géneros e o próprio amor em si, que merece ser adicionado à sua lista de “a não perder”.
Artigo revisto por Lurdes Pereira