Era nosso. Devia ter sido nosso.
Terminou. Uma das mais belas histórias do futebol chegou ao fim.
De partida para as Caldas da Rainha, o lugar que naquele dia era o centro do mundo, sentia que ia ser um dia para recordar. Que com a sorte da vida iríamos conseguir estar no segundo estádio mais bonito de Portugal – o Jamor.
Assim que chego vejo uma placa que me chama a atenção. Lá está escrito “Mata Encantada”, e aí pensei: “Tem de dar para nós. Não pode não dar”.
Não faltaram as roulottes, o porco no espeto, as bifanas, as imperiais e o hino do Caldas SC a tocar. Ali, velhos conhecidos, que há anos não saíam de casa para ir à bola, e as novas gerações da cidade que se juntaram com um sonho em comum: ir ao Jamor. Por metro quadrado viam-se cachecóis com décadas de existência e que estavam guardados para momentos como este, em que a alegria reinou e não havia ninguém que não estivesse a sorrir.
Era nosso. Tinha de ser nosso.
Entre centenas de pessoas íamos tentando entrar no estádio e ocupar o lugar que nos era destinado, lugar esse que só foi possível graças à boa vontade de uma centena de pessoas que por amor, e sublinhe-se a palavra, se disponibilizaram para proporcionar a todos as condições necessárias a um grande jogo de futebol.
Marcava 18h30 no relógio. O apito soou pela primeira vez.
Um apoio monumental acabaria por ser o que mais se destacava de uma primeira parte em que nenhuma das equipas quis arriscar em demasia à mercê de sofrer um golo e comprometer a eliminatória.
O momento mais alto do dia chegou pouco depois de começar a segunda parte. Após uma confusão chegámos ao golo. Não sei bem o que fiz. Aliás, acho que ninguém sabe. Foi de tal forma intenso que se fosse visto de fora diziam que éramos malucos. Não, não éramos. Aquilo foi a emoção de perceber que a viagem não terminava ali.
Quis o destino, se é que ele existe, que houvesse mais meia hora de jogo. O sonho estava cada vez mais perto. A premissa era simples: conseguirmos aguentar até às grandes penalidades e depois rezamos para que a sorte estivesse do nosso lado.
Desta vez, contudo, quis o mesmo destino que a sorte sorrisse também aos adversários. O empate e depois o completar da reviravolta deitaram por terra as aspirações de cada um de nós. O final estava perto.
Foi nesse momento, e já após o árbitro dar por terminada a partida, que acontece um dos momentos mais bonitos a que assisti na minha curta jornada de vida.
Ninguém se deslocou um metro do lugar onde estava sentado e aí sim, a mais intensa ovação de que me lembro tomou conta de um lugar que se tornou encantado. Encantado por eles, equipa, encantado por nós, adeptos, e encantado por toda a história que ali se viveu.
Refiro-me a nós, e este sim, exclusivamente por causa dos jogadores, porque foi graças a eles e por eles que o Caldas SC e os caldenses voltaram a ser um só, ainda que sempre o tivessem sido. Só não estava à vista.
Um agradecimento não chega, nunca chegará, para entender o quão especial foi esta caminhada.
Tocámos o céu.
Não o agarrámos, mas deixamos lá gravado um nome. O do Caldas Sport Clube.
Juntos.