Música

Foo Fighters e a auto-estrada para lado nenhum.

Depois de um álbum que revigorou a imagem e o som da banda, chega-nos outra longa-metragem sonora não tão convincente.

Não é novidade para ninguém que os Foo Fighters são uma das bandas mais respeitadas de rock desta geração. Não têm nada para provar, e o seu legado no mundo da música está mais do que assegurado. O álbum anterior, “Wasting Lights”, veio provar isso mesmo: temas que tinham garra e uma enorme maturidade na sua composição. Sem medo de ser um álbum de rock de garagem. Então, o que se passou com “Sonic Highways?”

Este CD foi, sem dúvida, um dos projectos mais ambiciosos da banda até à data. Conta com a participação de pelo menos um artista convidado em cada faixa, sendo que os oito temas que compõem este disco foram gravados em oito cidades norte-americanas diferentes. Até aqui, tudo bem. Uma ideia ambiciosa, mas nada que Dave Grohl e companhia não consigam acartar. Ou será que não conseguem?

Por muito que este álbum tenha tentado capturar a essência sonora de muitos dos convidados, como Gary Clark Jr ou Zac Brown, a sua individualidade enquanto artistas perde-se ao longo deste disco. E é ai que este comete o seu primeiro pecado. Com todo o poder das guitarras da banda, os ambientes poderosos e típica sonoridade dos “Foo’s”, a contribuição de todos os outros artistas acaba por se perder. É uma mistura que representa 80% Foo Fighters e 20% todos os outros artistas participantes. Fica a sensação de que a banda queria sair da sua zona de conforto, mas não conseguiu. O que resultou num meio-termo muito pouco satisfatório.

A componente lírica nunca foi a parte mais importante dos Foo Fighters. Muitas vezes acabavam por cair em clichés do dia-a-dia. Mas essa simplicidade nas letras da banda é um dos seus pontos fortes. Tal como os pulmões e as cordas vocais de Dave Grohl, que sempre asseguraram que a banda impelia músicas que se tornaram verdadeiros hinos. Verdadeiros hinos, esses, que faltam a este “Sonic Highways”.

É importante não ouvir este LP na esperança de que os Foo Fighters soem exactamente àquilo que soavam na sua encarnação nos anos 90, para poupar desilusões. Se ouvirmos este álbum na esperança de ouvirmos algo mais moderno e algo que nos situe no ponto em que o rock se encontra actualmente, então, talvez consigamos sair menos desapontados.

Uma das maiores desilusões deste CD foi a faixa de duas partes: “What did I do/ God as my witness”. Normalmente temas divididos em duas partes são sempre músicas fantásticas com um resultado explosivo e com uma grande exploração lírica e ambiental. No entanto, e tal como este álbum, esta faixa sabe a pouco. São apenas dois temas colados um no outro sem muito mais para dizer.

Nos temas seguintes, “Outside”, “In the Clear”, “Subterranean” e I Am a River”, ouvimos uns Foo Fighetrs mais experimentais. Diria mesmo que tentam não ser a aquela banda de singles previsíveis que as primeiras quatro faixas deste álbum foram. E, para uma faixa final, que é “I am a River”, a sensação que deixa é a de que veio demasiado tarde. Um tema fantástico onde a banda consegue aquilo que seria o objectivo principal deste álbum: diversidade.

Senti que me forçava a mim mesmo para tentar gostar deste álbum mais do que aquilo que este merecia. Não quero ser mal interpretado: este álbum tem o seu potencial e o seu valor. Contudo, não quebra barreira nenhuma e não eleva os Foo Fighters a um patamar maior do que aquele em que eles já se encontram.

“Decente” é a palavra indicada para este CD. Toda a ideia que circulava por trás desta “auto-estrada sónica” foi sem dúvida fantástica, mas a execução ficou muito aquém das expectativas. Era de esperar algo mais deste “Sonic Highways”, tendo em conta o tempo que demorou até chegar aos nossos ouvidos. Demonstra aquilo que o Rock n’ Roll é e pode continuar a ser. E foi isso mesmo que recebemos: um álbum de rock. Mas não um álbum de rock memorável.