Fredrik Aursnes: O robô multifuncional
Fredrik Aursnes tem 27 anos, nasceu em Hareid, na Noruega, e chegou ao Benfica no último mercado de verão, proveniente do Feyenoord. Depois de uma época bem-sucedida na Eredivisie, o norueguês transferiu-se para Portugal a troco de treze milhões de euros, isto depois de um ano antes ter custado apenas 450 mil euros ao emblema neerlandês. A hipervalorização do algo desconhecido médio nórdico causou alguma desconfiança em Portugal, mas Roger Schmidt, que tinha defrontado Aursnes na época anterior, sempre se mostrou fã das características do norueguês. Aliás, terá sido mesmo o técnico alemão a sugerir a sua contratação à estrutura benfiquista.
Da expetativa à realidade
«O Aursnes pode jogar em várias posições, isso é claro. Você diz que ele de origem é um número seis, mas não estou totalmente convencido disso: parece-me que pode jogar quase em todo o lado» – Roger Schmidt, 06/03/2023.
Aursnes chegou aos encarnados como alternativa para o duplo pivot do meio-campo, principalmente para a posição “seis”, que, como admitiu o norueguês aquando da sua chegada a Portugal, foi aquela em que mais jogou na temporada transata, ao serviço do Feyenoord. No entanto, tal não tem acontecido com a mesma regularidade no clube da Luz. Nem a “seis”, nem a “oito”. Apesar de já ter alinhado nessas duas posições e também como “dez”, Aursnes tem atuado sobretudo como médio ala, principalmente do lado esquerdo, no sistema de Schmidt. Mesmo após a saída de Enzo Fernández, o técnico alemão raramente tem abdicado de ter Aursnes numa das posições mais ofensivas do meio-campo encarnado, seja pelo rendimento bastante positivo de Chiquinho desde então, como pela notória contribuição positiva do norueguês no modelo de jogo benfiquista. O médio nórdico já alinhou em todas as posições do meio-campo, mostrando-se sempre bastante competente. Aursnes começa então a ser sinónimo de multifuncionalidade.
Os números não são tudo
Fredrik Aursnes soma, ao dia de hoje, um golo e uma assistência em 31 jogos oficiais pelo Benfica. São números bastante modestos que nos podem fazer cair na tentação de ignorar ou desvalorizar o jogador, mas isso deixo para os mais desatentos ou para aqueles que se guiam apenas por golos e assistências para definirem a qualidade/ importância de um jogador dentro de uma equipa de futebol.
Aursnes, apesar da sua inegável qualidade técnica, não é propriamente o protótipo de um jogador vistoso. Não é um génio como fora Aimar, por exemplo; não é um velocista como Rafa nem um malabarista como Neres, mas o norueguês destaca-se pela forma como pensa o jogo e desenha as jogadas (entende-se muito bem com Grimaldo). Multiplica-se dentro de campo e é incansável durante 90 minutos, seja a defender ou a atacar. O primeiro a elogiá-lo é o próprio Roger Schmidt: “É muito completo, muito inteligente, consegue correr muito. Se calhar é o que corre mais na nossa equipa. Pode correr 14 ou 15 quilómetros por jogo”, começou por dizer o treinador alemão, há sensivelmente um mês, na antevisão ao encontro com o Vizela. “Independentemente de jogar no meio ou no ataque, é muito confiável. Este tipo de jogador é sempre crucial nas equipas”, continuou. Embora se diga muitas vezes que falta ao Benfica, em determinados jogos, alguém com o poder de desequilíbrio individual de David Neres, os encarnados têm em Aursnes uma peça que garante critério no passe, equilíbrio defensivo, inteligência nos movimentos, agressividade na pressão e, acima de tudo, consistência. É muito difícil, para não dizer impossível, arranjar um jogo no qual o norueguês tenha estado efetivamente mal. Talvez tenha apenas de corrigir a sua habilidade para bater grandes penalidades (marcou contra o Caldas, mas falhou na Luz perante o Portimonense e em Braga na eliminação da Taça).
Ninguém pagaria um bilhete só para ver Aursnes a jogar, mas o norueguês tem a capacidade de nos oferecer uma experiência futebolística completa. Um futebol de estética, pensamento e inteligência.
Fonte da capa: Observador
Artigo revisto por Inês Gonçalves