Galáctica à Portuguesa
No segundo álbum dos Capitães da Areia, a banda decidiu levantar voo a bordo do centro comercial Apolo 70. O resto é história. Ou melhor, o resto é música.
Vamos começar pelo número de faixas que este álbum contém: 31. Quando me elucidaram deste facto, pensei que a quantidade de temas era totalmente ridícula – um CD com 31 músicas é praticamente inaudível do início ao fim sem causar algum tipo de fatiga auditiva – ainda bem que estava errado. Aquele número exorbitante de temas era só fogo-de-vista e está lá só por estar, pois este CD preferiu levar-nos numa estonteante viagem de uma hora e quinze.
Um conceito tão simples e, ao mesmo tempo, tão original que se torna numa verdadeira banda desenhada auditiva. A ambientação e sonoridade primordial deste CD vem directamente dos anos 80. Desta mesma época, vem a fantástica arte que ilustra o álbum onde podemos visualizar uma verdadeira odisseia de figuras “míticas” portuguesas. Figuras essas que marcam presença neste LP.
É ridículo tentar expressar aquilo que possam ter sido os anos 80, pois não vivi nessa época. Contudo, tudo aquilo de feliz e de extravagante que só posso imaginar que tenha sido essa altura histórica, está representado neste álbum de forma exemplar.
Os Capitães da Areia juntaram a electrónica bem-disposta a convidados como Toy, Tiago Bettencourt, os Capitão Fausto e muitos outros. Letras que não têm necessariamente algum significado particular, mas que também não nos desviam do objectivo principal do álbum: uma viagem que nunca pensávamos viver. Neste caso, ouvir.
A partir de uma simples audição, a banda leva-nos a um espaço com efeitos especiais, luzes, cores e a um álbum que vem 30 anos depois do seu tempo e ainda assim mantém-se actual. Se tivesse de imaginar a parte visual deste álbum, seria certamente uma compilação daqueles genéricos moncosos dos programas antigos com aqueles efeitos de luzes super saturados. É isto que os Capitães nos trazem.
Isto e uma batalha para clamar a coroa do rei do universo. Estou a falar de um duelo, na faixa número 12 entre Toy e Rui Pregal da Cunha. Ouvir o vozeirão do Toy a desvanecer enquanto se falam de homens a marchar foi algo que nunca esperei ouvir, mas ainda bem que o fiz. Como se esta batalha não bastasse, Os Capitães juntaram-se ao Tiago Bettencourt para falar sobre gasolina. Sim, uma música que nos embala e relaxa enquanto fala de combustível. E, como se tudo isto não fosse suficiente, ainda temos a participação de Bruno Aleixo num segmento cómico e numa música igualmente anedótica.
Pode parecer exagerada toda a notoriedade que estou a dar a este CD, mas é merecida, pois ele mesmo é exagerado, infantil e satisfatório a todos os níveis. Não que seja uma obra-prima musical, longe disso, pois o conceito por detrás deste álbum é tão bem conseguido que acaba por inevitavelmente elevar a parte técnica – que é uma versão mais animada daquilo que os Capitães da Areia nos apresentaram no primeiro álbum. Contudo, é algo bem pensado, que poderia ter sido feito há muito tempo e só foi feito agora. E, por isso, merece todo o crédito.
Podes ouvir o álbum na íntegra!