It’s Okay Not To Be Okay: não é um conto de fadas
It’s Okay Not To Be Okay é o mais recente sucesso sul-coreano lançado pela Netflix, em 2020. Protagonizado por Kim Soo Hyun, Seo Ye Ji e Oh Jung Se, este drama retrata a história de três personagens que, apesar de caóticas, encaixam como um puzzle. Se nunca perscrutaste a ficção coreana, confesso que esta será uma boa oportunidade para te desprenderes da ficção ocidental – que, a meu ver, tende a tornar-se gradualmente saturada de clichês para adolescentes.
Kim Soo Hyun interpreta Moon Gang-tae, um enfermeiro de 30 anos que vive com o seu irmão mais velho, Sang-tae, que sofre de autismo. Gang-tae não conseguiu desenvolver quaisquer relações interpessoais enquanto adulto, uma vez que, sazonalmente, se vê obrigado a mudar de cidade para salvar a vida ao seu irmão, devido a um trauma de que este padece – o infortúnio de ter assistido ao assassinato da sua mãe. Aquando de uma destas mudanças, os destinos de Gang-tae e Ko Mun-yeong, escritora de contos infantis extremamente aclamada na Coreia do Sul, cruzam-se.
Ko Mun-yeong não tem uma história menos trágica do que a destes irmãos: foi criada numa casa remota pela sua mãe abusiva, que acabou por morrer (ou assim se pensou, durante algum tempo), e o seu pai, que sofre de demência, deseja a sua morte. Por isso, refugiou-se na literatura infantil, porque, para si, “um conto de fadas é uma cruel fantasia que ilustra a brutalidade e a violência do mundo de forma paradoxal”.
A relação destas três personagens é, incessantemente, posta à prova. Não obstante, estes desafios solidificam o seu vínculo. Os traumas enfrentados, provenientes dos casos de abuso parental e homicídio experienciados na infância, são manifestos, sendo escrutinados à medida que a narrativa avança – e os seus respetivos passados vão sendo postos atrás das costas. No entanto, os incidentes com que cada episódio nos presenteia fazem com que essa missão seja quase impossível.
De vez em quando temos a sensação de que a série carece de um fio condutor, uma vez que todas as histórias parecem dispersas e desprovidas de um ponto convergente, até que surge algo que nos deixa completamente perplexos, articulando o aparentemente inarticulável.
Queria desvendar tudo, mas decidi censurar-me – revelar um detalhe, por mais ínfimo que fosse, poderia deteriorar a magia da série para os que ainda não a viram. Esta história foi escrupulosamente produzida e cada minuto é melhor que o anterior. Por isso, se ficaste interessado, prepara-te para explorar os detalhes mais mórbidos que habitam no íntimo destas personagens e os delitos de que estão circundadas. Este drama não é um conto de fadas.
Artigo revisto por Ana Cardoso
Fonte da foto de capa: Netflix