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K-Couture: A revolução da moda inspirada pelo K-pop

K-pop, K-dramas, K-fashion, K-beauty. Vivemos no momento da “Hallyu“, ou seja, da “Onda Coreana” – termo que se refere ao aumento da popularidade da cultura sul-coreana no ocidente. BTS, Blackpink e EXO são apenas alguns nomes que se tornaram fenómenos globais.

A indústria da música foi completamente transformada pelo K-pop e o mundo da moda seguiu a mesma onda. Não só as maiores marcas de alta-costura, como a Louis Vuitton, a Dior e a Cartier, escolheram idols para serem a sua cara, como novas marcas coreanas chegaram para ficar no mundo da alta-costura.

Fonte: Star Style
Jisoo para a Dior

O fenómeno K-pop

As estrelas das maiores bandas de K-pop já se tornaram regulares nos desfiles de moda.  A sua presença na Semana da Moda de Paris e Milão dá que falar; também a cidade de Seoul se tornou, de alguma forma, no novo destino quente para os eventos e desfiles de moda.

Fonte: J-14
Alguns dos idols presentes na Paris fashion week, 2023

Para perceber o motivo, é necessário olhar primeiro para a história da Coreia do Sul. O facto de ter saído da ocupação japonesa e da Guerra da Coreia como um dos países mais pobres do mundo na década de 1960 tornou os sul-coreanos hipercompetitivos: uma razão fundamental para que o país pudesse passar do terceiro para o primeiro mundo em 30 anos.

Fiona Bae, autora de Make Break Remix: The Rise of K-Style, escreve que o facto de a Coreia do Sul ser um país pequeno e dependente de países mais fortes aumentou a insegurança e o desejo de reconhecimento externo ao país, criando uma sociedade materialista, orientada para o estatuto e dominada principalmente por uma cultura de “imitação”. Sendo assim, o mercado ocidental de alta-costura esteve sempre muito presente na Coreia do Sul. Em 2022, o país foi o maior consumidor do mercado de luxo, segundo a Euronews.

O envolvimento com marcas de luxo e a popularidade do K-pop traduziu-se numa maior procura das grandes marcas de luxo ocidentais pela representação das estrelas coreanas. Desde a Jennie das Blackpink na Chanel, a Kai e IU na Gucci, os ídolos e celebridades do K-pop tornaram-se rapidamente uma presença habitual em campanhas e desfiles, e por uma única razão – a atenção dos seus fãs.

Fonte: Brandwatch

As campanhas das marcas ganharam uma nova vida com a participação das idols.  O próprio estilo coreano começou a influenciar o estilo ocidental. Saias plissadas, roupas mais modestas e oversized começaram a fazer parte das indumentárias. O mesmo aconteceu no mercado de beleza; a maquilhagem dos ídolos do K-pop tende a ser colorida e brilhante, sendo o look mais comum um discreto eyeliner e uma tonalidade nos lábios. Houve um aumento da popularidade destes estilos de maquilhagem e, em 2017, a indústria da beleza da Coreia do Sul foi estimada em mais de 13 mil milhões de dólares.

Fonte: VOGUE
Grupo Red Velvet

Apesar do seu poder no mundo da moda, a Coreia do Sul dedicava-se a promover marcas ocidentais. No entanto, os designers do país começaram a desafiar esse paradigma, desejando criar marcas próprias de renome. Assim, marcas como Gentle Monster, Minju Kim, Post-archive Faction e Hyein Seo ganharam mais relevância, cada uma com um estilo muito distinto.

O surgimento da Techwear 

A Coreia do Sul destaca-se por ser um país muito avançado a nível tecnológico e com uma paixão pela moda. O estilo techwear não podia ter surgido noutro local. A techwear destaca-se do resto da alta-costura, porque não se foca apenas na estética e na liberdade criativa da roupa, mas sim na sua funcionalidade.

Os elementos da techwear são inspirados na utilidade e simplicidade da roupa desportiva, mas incorporam elementos futuristas e um corte estético. Inspiram-se em filmes de ficção científica ou videojogos. As coleções da marca coreana Post-Archive Faction e as criações da designer Hyein Seo incorporam este estilo.

Fonte: TomorrowLTD
Estilo da marca Post-Archive Faction

Fonte: Hypebeast | Highsnobiety
Criação da designer Hyein Seo

O sucesso da Gentle Monster

A marca Gentle Monster é atualmente a marca de óculos mais famosa na Coreia do Sul e está a crescer cada vez mais a nível global, sendo utilizada por várias personalidades da cultura pop. A marca destaca-se não só pelo seu olhar futurista, mas também pela originalidade dos designs e campanhas criativas.

Fonte: Ares Eyewear
Beyoncé a utilizar óculos da marca Gentle Monster

Fonte: Tiktok da marca, @gentlemonster_official
Vídeo de propaganda para a nova coleção 

Do futuro ao passado

As marcas coreanas decidiram também incorporar elementos da sua tradição cultural. Segundo Kim Youngjin, um estilista dos artistas de K-pop, o governo sul-coreano tentou muitas vezes, mas em vão, trazer de volta o hanbok à vida quotidiana desde a década de 1960. “Foi o esforço concertado de designers de hanbok, estilistas e revistas de moda a partir de meados da década de 2000, amplificado pelo sucesso global da K-drama e do K-pop, que fez do hanbok o que é hoje e que explodiu a uma escala nunca antes vista através da Internet e das redes sociais.

 Os designers Baek Oak Soo e Minju Kim são exemplos disso. Kim Youngjin afirma: “O que é interessante é que muitos designers de moda sul-coreanos contemporâneos incluem no seu design referências às suas raízes culturais, seja na escolha do tecido, nos pontos, na criação de padrões ou nos motivos decorativos”.

Fonte: Hypebae
Criação de Minju Kim
Fonte: Kpop Herald
 BTS, a utilizar o design de Baek Oak Soo no videoclipe “IDOL”.

Após anos de influência ocidental na Coreia do Sul, os papéis inverteram-se: agora é a Coreia do Sul que está a exercer uma forte influência na moda global. O crescente interesse por novidades e originalidade promete que a tendência está longe de diminuir.

Fonte da foto de capa: Kpopping

Revisto por Inês Gomes

AUTORIA

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Uma vida sem arte e literatura seria impensável para Catarina. A aspirante a jornalista vê na ESCS Magazine a oportunidade perfeita para ouvir novas histórias e conhecer diferentes perspetivas. É sonhadora por natureza, mente aberta por convicção, e encontra-se atualmente a fazer de tudo para não acabar num trabalho de escritório.