K-Couture: A revolução da moda inspirada pelo K-pop
K-pop, K-dramas, K-fashion, K-beauty. Vivemos no momento da “Hallyu“, ou seja, da “Onda Coreana” – termo que se refere ao aumento da popularidade da cultura sul-coreana no ocidente. BTS, Blackpink e EXO são apenas alguns nomes que se tornaram fenómenos globais.
A indústria da música foi completamente transformada pelo K-pop e o mundo da moda seguiu a mesma onda. Não só as maiores marcas de alta-costura, como a Louis Vuitton, a Dior e a Cartier, escolheram idols para serem a sua cara, como novas marcas coreanas chegaram para ficar no mundo da alta-costura.
O fenómeno K-pop
As estrelas das maiores bandas de K-pop já se tornaram regulares nos desfiles de moda. A sua presença na Semana da Moda de Paris e Milão dá que falar; também a cidade de Seoul se tornou, de alguma forma, no novo destino quente para os eventos e desfiles de moda.
Para perceber o motivo, é necessário olhar primeiro para a história da Coreia do Sul. O facto de ter saído da ocupação japonesa e da Guerra da Coreia como um dos países mais pobres do mundo na década de 1960 tornou os sul-coreanos hipercompetitivos: uma razão fundamental para que o país pudesse passar do terceiro para o primeiro mundo em 30 anos.
Fiona Bae, autora de Make Break Remix: The Rise of K-Style, escreve que o facto de a Coreia do Sul ser um país pequeno e dependente de países mais fortes aumentou a insegurança e o desejo de reconhecimento externo ao país, criando uma sociedade materialista, orientada para o estatuto e dominada principalmente por uma cultura de “imitação”. Sendo assim, o mercado ocidental de alta-costura esteve sempre muito presente na Coreia do Sul. Em 2022, o país foi o maior consumidor do mercado de luxo, segundo a Euronews.
O envolvimento com marcas de luxo e a popularidade do K-pop traduziu-se numa maior procura das grandes marcas de luxo ocidentais pela representação das estrelas coreanas. Desde a Jennie das Blackpink na Chanel, a Kai e IU na Gucci, os ídolos e celebridades do K-pop tornaram-se rapidamente uma presença habitual em campanhas e desfiles, e por uma única razão – a atenção dos seus fãs.
As campanhas das marcas ganharam uma nova vida com a participação das idols. O próprio estilo coreano começou a influenciar o estilo ocidental. Saias plissadas, roupas mais modestas e oversized começaram a fazer parte das indumentárias. O mesmo aconteceu no mercado de beleza; a maquilhagem dos ídolos do K-pop tende a ser colorida e brilhante, sendo o look mais comum um discreto eyeliner e uma tonalidade nos lábios. Houve um aumento da popularidade destes estilos de maquilhagem e, em 2017, a indústria da beleza da Coreia do Sul foi estimada em mais de 13 mil milhões de dólares.
Apesar do seu poder no mundo da moda, a Coreia do Sul dedicava-se a promover marcas ocidentais. No entanto, os designers do país começaram a desafiar esse paradigma, desejando criar marcas próprias de renome. Assim, marcas como Gentle Monster, Minju Kim, Post-archive Faction e Hyein Seo ganharam mais relevância, cada uma com um estilo muito distinto.
O surgimento da Techwear
A Coreia do Sul destaca-se por ser um país muito avançado a nível tecnológico e com uma paixão pela moda. O estilo techwear não podia ter surgido noutro local. A techwear destaca-se do resto da alta-costura, porque não se foca apenas na estética e na liberdade criativa da roupa, mas sim na sua funcionalidade.
Os elementos da techwear são inspirados na utilidade e simplicidade da roupa desportiva, mas incorporam elementos futuristas e um corte estético. Inspiram-se em filmes de ficção científica ou videojogos. As coleções da marca coreana Post-Archive Faction e as criações da designer Hyein Seo incorporam este estilo.
O sucesso da Gentle Monster
A marca Gentle Monster é atualmente a marca de óculos mais famosa na Coreia do Sul e está a crescer cada vez mais a nível global, sendo utilizada por várias personalidades da cultura pop. A marca destaca-se não só pelo seu olhar futurista, mas também pela originalidade dos designs e campanhas criativas.
Do futuro ao passado
As marcas coreanas decidiram também incorporar elementos da sua tradição cultural. Segundo Kim Youngjin, um estilista dos artistas de K-pop, o governo sul-coreano tentou muitas vezes, mas em vão, trazer de volta o hanbok à vida quotidiana desde a década de 1960. “Foi o esforço concertado de designers de hanbok, estilistas e revistas de moda a partir de meados da década de 2000, amplificado pelo sucesso global da K-drama e do K-pop, que fez do hanbok o que é hoje e que explodiu a uma escala nunca antes vista através da Internet e das redes sociais.”
Os designers Baek Oak Soo e Minju Kim são exemplos disso. Kim Youngjin afirma: “O que é interessante é que muitos designers de moda sul-coreanos contemporâneos incluem no seu design referências às suas raízes culturais, seja na escolha do tecido, nos pontos, na criação de padrões ou nos motivos decorativos”.
Após anos de influência ocidental na Coreia do Sul, os papéis inverteram-se: agora é a Coreia do Sul que está a exercer uma forte influência na moda global. O crescente interesse por novidades e originalidade promete que a tendência está longe de diminuir.
Fonte da foto de capa: Kpopping
Revisto por Inês Gomes
AUTORIA
Uma vida sem arte e literatura seria impensável para Catarina. A aspirante a jornalista vê na ESCS Magazine a oportunidade perfeita para ouvir novas histórias e conhecer diferentes perspetivas. É sonhadora por natureza, mente aberta por convicção, e encontra-se atualmente a fazer de tudo para não acabar num trabalho de escritório.