LEFFEST: O antirreflexo de Cornelia
“Que elimina ou reduz o reflexo da luz” – é este o significado de antirreflexo, palavra que pode ter surgido na mente dos espectadores que assistiram à exibição de Cornelia Frente Al Espejo, no dia de arranque do Lisbon & Estoril Film Festival.
Cornelia, bonita e astuta, captou a atenção de todos os presentes no Cinema Medeia Monumental, no Saldanha. O seu percurso conturbado e o seu cariz manipulador deixam qualquer pessoa surpreendida.
Na verdade, esta não se trata de uma pessoa presente na sessão cinematográfica, mas sim da protagonista do filme realizado por Daniel Rosenfeld. O filme começa com o regresso desta jovem à casa da sua tia e com o seu solilóquio frente ao espelho: aí, surgem três personagens que viram a sua vida de pernas para o ar – para quem desejava suicidar-se, ter de lidar com uma criança misteriosa, uma mulher que a recorda do seu passado, um ladrão que a faz pensar e alguém por quem se apaixona constituem, indubitavelmente, tarefas árduas.
Silvina Ocampo, escritora argentina, desafiou os seus leitores através do seu talento para a literatura surrealista, conjugando a realidade e a fantasia. Já Rosenfeld conseguiu transportar as duas dimensões do mundo para o grande ecrã, dando particular atenção a aspetos estruturais do filme: “Como Silvina rompeu com a lógica de ação e reação, apostando pela digressão, não obedecendo à lógica aristotélica da ação, pude focar-me nas imagens e na densidade do espaço e do tempo”, afirmou o realizador oriundo de Buenos Aires, que já recebeu um vasto leque de prémios, como o de Melhor Jovem Realizador e uma Menção Especial do Júri no Festival de Cinema de Veneza ou o Prémio do Júri do Festival de Cinema de Belfort.
Há quem diga que Victoria, irmã de Silvina Ocampo, declarou que a mesma se baseou nas teorias psicanalíticas de Jean Cocteau e de Jacques Lacan para compor todo o quadro psicológico de Cornelia, contudo, Daniel Rosenfeld, disse: “Creio que, aquando do seu processo criativo, Silvina não se concentrou em nenhuma teoria específica”.
Talvez padeça de esquizofrenia. Talvez possua somente uma elevada polifonia de vozes dentro de si. Talvez deseje escapar do seu quotidiano trágico. O que é certo é que o comportamento de Cornelia pode ser interpretado como uma metáfora do processo criativo: o que seria um escritor, um realizador, um pintor… Um artista, sem ouvir as mais variadas vozes?
Como Alice que cai para a toca do coelho e, posteriormente, para o outro lado do espelho e se depara com criaturas surpreendentes e cenários inimagináveis, ou Nina, em “O Cisne Negro”, que ouve vozes diariamente e imagina a sua concorrência no mundo do ballet, Cornelia vive amargurada e infeliz, porque, apesar de desejar viver, sabe que a morte é a única solução para a sua falta de luz e identidade.
AUTORIA
Se virem uma rapariga com o cabelo despenteado, fones nos ouvidos e um livro nas mãos, essa pessoa é a Maria. Normalmente, podem encontrá-la na redação, entusiasmada com as suas mais recentes descobertas “AVIDeanas”, a requisitar gravadores, tripés, câmaras, microfones e o diabo a sete no armazém ou a escrever um post para o seu blogue, o “Estranha Forma de Ser Jornalista”… Ah, e vai às aulas (tem de ser)! Descobriu que o jornalismo é sua minha paixão quando, aos quatro anos, acompanhou a transmissão do 11 de setembro e pensou: “Quero falar sobre as coisas que acontecem!”. A sua visão pueril transformou-se no desejo de se tornar jornalista de investigação. Outras coisas que devem saber sobre ela: fica stressada se se esquecer da agenda em casa, enlouquece quando vai a concertos e escreve sempre demasiado, excedendo o limite de caracteres ou páginas pedidos nos trabalhos das unidades curriculares. Na gala do 5º aniversário da ESCS MAGAZINE, revista que já considera ser a sua pequena bebé, ganhou o prémio “A Que Vai a Todas” e, se calhar, isso justifica-se, porque a noite nunca deixa de ser uma criança e há sempre tempo para fazer uma reportagem aqui e uma entrevista acolá…!