Mac 2.0
É decididamente difícil dissociar Mac DeMarco do seu estilo habitual: descontraído, goofy e inegavelmente despretensioso. Estes traços fluem também para música, transparecendo, de forma óbvia, nos seus trabalhos anteriores.
Neste terceiro álbum, porém, é possível ver uma mudança. Não lhe chamaria crescimento ou maturação, sendo que, pelo menos para mim, o Mac terá sempre aquela síndrome de Peter Pan, preso a um look relaxado e pateta. No entanto, é impossível negar uma nova direção sonora, mais atenta e introspetiva, com uma atenção redobrada nas suas letras, mais refinadas e confessionais.
Esta natureza mais intimista é logo ilustrada na primeira música “My Old Man”, na qual Mac confronta a dura realidade sentida ao perceber que lentamente está a transformar-se no seu pai, com o qual tinha uma péssima relação. “Watching Him Fade Away”, a última música, segue o mesmo registo, descrevendo a situação complexa de perder alguém (“And even though we barely know each other/ It still hurts watching him fade away”).
“This Old Dog” e “For The First Time” trazem de volta o velho Mac, com um clima mais soalheiro e bem-disposto, sendo os hinos perfeitos para os dias mais preguiçosos destas férias de verão. Por sua vez, “Dreams From Yesterdays” tem um som lânguido e um ritmo estranhamente reminiscente de Bossa Nova.
É também impossível não mencionar “Moonlight On The River”, uma faixa que se pode descrever quase como uma entrada de diário sobre o seu pai. Esta começa com uma tristeza melancólica, mas, ao longo de sete minutos, cresce para um psicadelismo espacial que espelha a frieza sentida em relação ao pai (“It’s so strange, deciding, how I feel about you”).
Em retrospetiva, sim, Mac DeMarco talvez tenha crescido um bocadinho, mas, na verdade, é uma mudança que em nada se sente forçada ou deslocada. Foi não só uma evolução sonora mas também uma viagem introspetiva, descobrindo caminhos que eram liricamente desconhecidos.
Estas são canções que não se impõem, mas emergem devagarinho, assumindo a sua composição impecável e aquele feeling languido e viciante a que estamos habituados. É caso para dizer que tudo se transformou mas nada se perdeu no processo.