Médicos – Onde estão eles?
Fala-se muito na crescente carência de profissionais na área da saúde. Nas salas de espera, nos atrasos no atendimento e no perpétuo atulho do Amadora-Sintra parece evidente que algo não está certo. As justificações? Alguns apontam o dedo a uma preguicite aguda das classes médicas e ao seu desinteresse em relação ao ofício. Quem é que ainda se sente honestamente surpreendido por esta retórica? É o nosso maior estereótipo. Quantas vezes não ouvimos já falar na molenguice nacional, na apatia portuguesa e no nosso espírito do “empurrar com a barriga”?
Discordo cordialmente de todos estes clichês. Não obstante, alguns problemas existem na área da saúde. A falta de médicos em Portugal, no entanto, não é um deles. Há sim uma falta de profissionais no setor público. As explicações para este facto são multifacetadas, mas, na minha opinião, resume-se quase tudo àquele delicioso verde – os médicos do setor público são mal pagos e, assim que tenham uma janela de oportunidade, saltam para o setor privado, onde trabalham menos e ganham mais. É perfeitamente natural. No entanto, o meu sentido de moralista arrogante impede-me de me sentir agradado com esta situação. O papel do médico é o de ajudar a aliviar a dor e o sofrimento do indivíduo, idilicamente tendo em consideração que a esmagadora maioria do povo não possui milhares de euros para gastar numa clínica privada.
Se os médicos são cegos pelos cifrões, só há uma forma de contra-atacar: legislação. A lei tem de servir a população e obrigar a fazê-lo quem não o quer fazer. Proponho uma obrigatoriedade temporária dos médicos em servir o setor público. Os primeiros cinco anos depois de concluírem os estudos, talvez. Será que é assim tão ridículo pedir para devolverem um pouco do serviço que o estado português lhes deu?
Não gostava que isto fosse encarado como um castigo, ou como uma qualquer vendeta comunista. Nada disso. Talvez esteja a ser excessivamente otimista em relação a uma alteração da mentalidade médica, verdade, mas o meu objetivo é apenas o de melhorar a qualidade do Serviço Nacional de Saúde para bem da comunidade portuguesa.
Por fim, uma palavra de apreço aos médicos que trabalham no Serviço Nacional de Saúde voluntariamente: obrigado. Sim, há maçãs podres no meio do cesto, mas quem se esforça para adotar um filho é porque quer mesmo ser pai.
AUTORIA
João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.