Modelos alimentares sustentáveis
A produção intensiva de alimentos tem consequências negativas para o meio ambiente, e o empobrecimento do solo e dos ecossistemas terrestres e marinhos é prova disso. No entanto, é um grande desafio produzir alimentos para sete mil milhões de pessoas enquanto se tenta reduzir as emissões de carbono e ainda manter um planeta sustentável. A investigadora da LEAF/ISA Anabela Raymundo comentou sobre o assunto e referiu que “se extrapolarmos a situação atual para 2050, quando teremos de alimentar nove a dez mil milhões de pessoas no mundo, não sobreviveremos neste planeta. O nosso planeta não sobreviverá. Por isso, temos de agir”.
A questão da alimentação sustentável e a preocupação com o regime adotado para produzir alimentos em massa vem da necessidade de criar uma maneira de estar sistematicamente a produzir alimentos e a fazer com que estes cheguem a todo o mundo. Este objetivo levou a que fosse fulcral a evolução da maquinaria e dos produtos utilizados no setor agrícola, assim como no setor industrial, que se dedica à produção de enlatados, embalados e engarrafados, sendo que é esperado que, nos próximos 50 anos, seja necessário produzir ainda mais alimentos, o que implicaria manter esta rotina, o que destrói gradualmente o nosso planeta.
O Jornal de Notícias publicou um artigo, baseado num estudo feito em 2020, em que se percebeu que a produção alimentar é responsável por 18,4% dos gases com efeito de estufa. A esta percentagem juntam-se 1,7% de gases emitidos pelas máquinas agrícolas,1,2% que surgem dos fertilizantes e 2,2% dos químicos. Conclui-se que a soma de todas estas variantes contribui para 23,5% da emissão global. Os métodos utilizados atualmente na agricultura fazem com que as terras de cultivo percam o solo arável duas a cinco vezes mais depressa do que se fosse processo natural.
Um dos fatores que tende a ser esquecido quando se fala do estado atual da produção alimentar é a quantidade de água que é desperdiçada no processo. É estimado que mais de 70% da água doce disponível de rios e lençóis freáticos seja utilizada na agricultura. Isto leva a que haja um aumento da escassez de água em muitos locais utilizados por agricultores e produtores pecuários de algumas regiões no interior.
O consumismo e o desperdício alimentar têm sido impactantes nesta problemática por forçarem uma produção intensiva, o que implica que o solo, os recursos hídricos e o ar sejam poluídos, através das emissões de gases de efeito de estufa e dos químicos utilizados nestas tarefas. Todo este processo afeta a biodiversidade sem oferecer qualquer benefício alimentar.
É estimado que, em 2050, não haja água potável nem capacidade de obter alimentos saudáveis devido aos métodos de produção utilizados atualmente. Com isto, existem soluções para evitar o agravante desta situação, que já é consideravelmente preocupante.
Para começar, é fundamental evitar o desperdício dos alimentos que consumimos no dia a dia, através de compras mais racionais, doseadas e com consciência ecológica. Ao adotarmos este hábito, reduzimos a energia e os combustíveis que são utilizados na produção destes alimentos.
Deve optar-se por comprar produtos sazonais e se possível nacionais, tendo assim uma dieta mediterrânea. Desta maneira, não há incentivo à produção de alimentos não biológicos e reduzem-se as importações, que, consequentemente, decrescem o uso de combustíveis no transporte de mercadorias.
Ao ter noção da amplitude deste problema e ao ter comportamentos conscientes é possível atingir-se um ponto em que os nossos hábitos alimentares contribuem para a preservação do meio ambiente.
Artigo redigido por Pedro Tavares
Artigo revisto por Daniela Leonardo