Literatura

Na terra dos sonhos: ‘’Dreamology’’

E se um dia acordássemos e o nosso sonho aparecesse à nossa frente? Se ao sairmos à rua víssemos a pessoa com quem sonhamos, aquela que julgamos ter sido meramente criada por uma mescla feita pelo nosso subconsciente?

Dreamology é um livro já relativamente antigo (2016) de Lucy Keating que toca em temas do subconsciente. É um livro que junta fantasia, ficção científica (leve, não é de todo o próximo Matrix) e romance.

Alice sonha com Max desde que é pequena. Milhentas aventuras subconscientes depois, cruza-se com ele na rua plenamente acordada. Descobre que Max é completamente diferente do amigo de infância com quem sonhava e, obviamente, tinha toda uma vida da qual Alice não fazia parte. O problema mais grave no meio disto tudo, ainda assim, é o facto de Alice deixar de conseguir distinguir a realidade da fantasia e dos sonhos por ter encontrado na vida real um elemento que julgava ser apenas ficcional. É um livro envolvente com voltas e reviravoltas que, na minha opinião, está muito bem executado.

Como podem ver na fotografia de capa, a minha cópia deste livro já passou por bastante. Este livro é um daqueles que gostava de esquecer e ler novamente pela primeira vez, não por ser dos mais profundos, ou dos mais ‘’crescidos’’ em termos de conteúdo, mas foi o primeiro livro que realmente me fez sentir imersa num universo em que eu não existia. Como tal, recomendo vivamente a sua leitura – mais que não seja por toda a tangente do subconsciente que este permite.

Toda a questão de “sonho versus realidade” que o livro traz acaba por dar que pensar: será que o subconsciente e o inconsciente estão assim tão perto da nossa realidade? Ou será que realmente viajamos para todo um outro plano de existência nos nossos sonhos?

Este, curiosamente, é um daqueles temas existenciais que sempre tive muito presente no meu pensamento: o subconsciente, sinais minúsculos que vamos ‘’apanhando’’ e que se transformam em sonhos ou pesadelos, versus o fator espiritual de viajarmos para outro nível de consciência – e realmente a nossa alma viver enquanto o nosso corpo descansa. Esta pode ser encarada como uma questão tanto filosófica como científica – como o caso de um outro livro que já vos apresentei (The Secret of a Heart Note). Será que estes dois conceitos se conciliam? Ou há algum que prevalece?

De facto, há mais contrastes a fazer. Porquê? 

Se questionarmos cientistas ou neurocirurgiões, provavelmente mostrar-nos-ão testes, investigações e scans que mostram onde o nosso cérebro se ativa durante o sono. ‘’Ativações’’ estas que fazem com que acessemos memórias, (por mais ínfimas e minúsculas que sejam) que dão origem aos ditos sonhos num estado leve de sono, estado este em que ainda há muita atividade cerebral presente.

Numa consulta com um psicólogo, ao descrevermos um sonho podemos obter uma explicação para um medo ou um objetivo nosso que exista ainda apenas ‘’debaixo da pele’’, escondido, algo de que ainda não temos consciência. Dão-nos a explicação para os elementos que a nossa mente nos escolhe mostrar quando estamos a sós com ela.

Finalmente, interrogando quem medita, quem acredita em cristais, quem acredita piamente no conceito de alma e frequências de estados de existência, ser-nos-á dito que as nossas almas acordam quando a nossa cabeça descansa, porque a pessoa não é o cérebro e sim uma substância intangível que está, no fundo, aprisionada num corpo físico.

No final das contas, tudo depende de crenças e de como escolhemos viver a nossa vida. Não há maneiras certas ou erradas de abordar a situação ou o tópico. Quem somos nós para negarmos algo de que não há certezas? A única coisa a fazer é decidirmos se escolhemos acreditar em dados e pesquisas ou dar o chamado ‘’salto de fé’’ e arriscar pensar que aquilo que vemos não é tudo o que existe.

Foto da capa: Joana Costa

Artigo revisto por Ana Beatriz Cardoso

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