Desporto

O “pendurar de botas” que parou o mundo: como reagiu o mundo do futebol à morte de Isabel II

O mundo parou na tarde de 8 de setembro com a morte da figura máxima do Reino Unido que marcou décadas de reinado, e nem o mundo do Futebol ficou indiferente.

Há pouco mais de um mês, o mundo presenciou aquele que foi talvez um dos mais marcantes momentos do século: após 70 anos de reinado, Isabel II faleceu de forma natural e pacífica, no Castelo de Balmoral, na Escócia.

Apesar de muito especulado, o óbito da monarca foi uma surpresa para muita gente, de modo que chocou o mundo. Manifestações de luto surgiram não só no Reino Unido, mas em vários países e entidades ao redor do mundo.

Dentro do mundo do desporto múltiplos atletas das mais diversas modalidades prestaram  condolências : o heptacampeão do mundo de ‘snooker, Ronnie O’Sullivan, o antigo ciclista Bradley Wiggins, o piloto de Fórmula 1 George Russell e até mesmo celebridades não britânicas, como o já reformado Pelé, lendário futebolista brasileiro, são apenas alguns dos nomes de figuras que expressaram a sua tristeza com a notícia.

No Futebol, tivemos também o adiamento dos jogos de todos os campeonatos ingleses , desde a Premier League à EFL (English Football League) até  à Superliga Feminina, que estavam marcados para tal fim-de-semana como forma de prestar homenagem à Monarca. O mesmo foi feito aos jogos da Primeira e da Segunda Divisão da Escócia e a alguns jogos na Irlanda do Norte e País de Gales.

A nível de Futebol continental, cumpriram-se minutos de silêncio nos jogos Zurique-Arsenal e Manchester United-Real Sociedad,  a contar para a UEFA Europa League, assim como no jogo West Ham-Steaua Bucareste,  para a  UEFA Europa Conference League.

Mesmo tendo recebido múltiplas manifestações de apoio e luto, a verdade é que a morte e o fim do Governo de Isabel II podem ser analisados por mais de um único ponto de vista, de modo que nem todos reagiram da mesma forma.

No Futebol, altamente popular, tal não podia ser diferente: havia grande expetativa, por exemplo, acerca de como equipas como o Liverpool, o Celtic e algumas equipas da Irlanda se manifestariam.

Mas por quê? No caso dos Reds, por exemplo, deve-se à ligação conturbada que a cidade de Liverpool tem com o regime monárquico e com o sul do país. Caracterizada pelo seu grande volume de imigrantes, maioritariamente de origem irlandesa (ao ponto de ser, por vezes, referida como a “segunda capital de Irlanda”), a cidade e os seus habitantes são mal vistos pelos moradores de outras regiões e, por isso, sentem-se “excluídos”.

Esse sentimento de exclusão converteu-se em oposição ao regime e ao governo britânico. Tal é evidente, por exemplo, através da adaptação feita pelos adeptos dos Reds ao hino do Reino Unido quando este é tocado em Anfield, substituindo o momento em que se diz “God Save The Queen” (“Deus Salve a Rainha”) por “God Save our Team” (“Deus salve a nossa equipa”).

Fonte: GOAL

O Liverpool, contudo, deixou uma mensagem de pesar, sendo o último dos 20 participantes da Premier League a fazê-lo, e, como seria de esperar, a receção da homenagem por parte dos seus adeptos foi bastante negativa: o clube chegou a limitar os comentários na publicação, mas não escapou às duras críticas acerca do seu posicionamento. 

O Celtic, da Escócia, também possui ligação histórica à Irlanda e ao Catolicismo Irlandês – um dos aspetos que fortalece ainda mais a rivalidade que tem com os Rangers, associado a valores pró-Monarquia. O caso dos escoceses, porém, ultrapassou, por muito, o dos ingleses.

Fonte: The Mirror

Em visita ao Shakhtar Donetsk, num jogo válido para a Liga dos Campeões da UEFA, os adeptos dos Bhoys levaram algumas faixas relacionadas à morte da rainha Isabel II, com mensagens provocativas, podendo-se, numa delas, ler “Que se f… a monarquia“.

Como consequência, o Celtic foi multado em 15 mil euros pelo Órgão de Controlo, Ética e Disciplina da UEFA, que considerou a mensagem da faixa como inadequada para um evento desportivo.

Vale referir também os adeptos do Shamrock Rovers, da Irlanda, que, em confronto frente ao Djurgarden para a UEFA Conference League, entoaram cantos polémicos, comemorando a morte da monarca: «“Lizzy’s” in a box, in a box. “Lizzy ‘s” in a box!» (“Isabel está na caixa, na caixa, Isabel está na caixa!”), cantaram os adeptos. O clube emitiu, posteriormente, uma nota oficial a repudiar esta atitude.

Com 70 anos de reinado, Isabel II foi, inegavelmente, um dos maiores nomes da política mundial. Apesar destas abordagens tão distintas ao seu falecimento, parece consensual que o acontecimento não passou indiferente a ninguém, muito menos ao altamente social Futebol.

Fonte da capa: SIC Notícias

Artigo revisto por Júlia Gibelli

AUTORIA

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Incapaz de ficar parado por muito tempo, o Lucas sempre teve o desporto como parte fundamental da sua vida. Desde que viu pela primeira vez as emoções, adrenalinas, alegrias e, por vezes, tristezas que só o desporto é capaz de proporcionar, soube que era isto que queria para si. Quer seja a praticar, falar ou, neste caso, a escrever, o Lucas e o desporto são inseparáveis desde sempre.