Editorias, Literatura

O que fazer quando estamos a ler um livro de que não gostamos

Vejo um bocadinho a leitura como a vida amorosa. Acho que cada livro que lemos é como se fosse um namoro: se gostamos muito da obra, e esta nos enche as medidas, é um período de grande felicidade e, seja o que for que estamos a fazer, pensamos nela a toda a hora; quando é um livro que tem alguma graça, mas não é propriamente espetacular, é bom para passar o tempo, mas não deixa grandes marcas; quando nos cai na rifa um livro que é aborrecido, cuja escrita não nos interessa, ou um com o qual não nos identificamos, a coisa torna-se feia. Neste último caso, há duas hipóteses: o livro é de facto tão ruim que não temos qualquer dificuldade em pôr fim à leitura; o livro é mauzinho mas sentimos culpa por não gostarmos dele e por não nos esforçarmos mais, então arrastamos a leitura indefinidamente. É para estes últimos que a lista foi feita.

Insistir um pouco na leitura. O início pode não ter corrido bem, ou podemos estar numa parte especialmente aborrecida. Muitas vezes o livro melhora à medida que se avança na história. Foi o que me aconteceu com o “Nómada”: a primeira metade do livro foi tortuosa, mas na segunda não conseguia parar de ler.

Manter o livro por perto (na mesa-de-cabeceira, por exemplo). Não conseguimos forçar-nos a lê-lo, mas também não conseguimos avançar para outro sem este estar terminado. Assim, colocamos o livro num lugar muito acessível, dando aos outros – e a nós próprios – a impressão de que o estamos a ler e não o abandonámos completamente.

Ir lendo outras coisas leves
, que não nos fazem realmente sentir que estamos a “trair” o livro actual. Boas opções são revistas, banda desenhada… Temos de nos entreter, mas sem “partir para outra”.

Chorar um pouco por dentro quando ouvimos os nossos amigos falarem dos livros fantásticos que estão a ler e nós só conseguimos pensar naquele que está em casa, fechado, à espera de que nós nos decidamos finalmente a acabar de o ler.

Ainda com o objectivo de iludirmos a nossa mente, continuar a responder com o nome d’O Livro sempre que nos perguntam o que é que estamos a ler (mesmo que já não peguemos nele há três meses).

Sonhar com todos os outros livros que temos na prateleira. Imaginamos como serão, perguntamo-nos porque não começámos antes a ler um deles, decidimos qual iremos ler a seguir e tentamos que isso nos sirva de incentivo a terminar o atual – embora por norma só sirva para nos sentirmos ainda mais chateados com aquele que estamos a ler.

Levar o livro quando vamos para sítios onde vamos demorar muito tempo, principalmente em filas: com sorte, ficaremos tão aborrecidos que seremos obrigados a pegar nele, a avançar bastante na história e, quem sabe, acabamos por descobrir que é muito melhor do que pensávamos.

Se finalmente decidirmos que realmente não vai resultar, devemos voltar a arrumar o livro na prateleira – é importante que não fique desarrumado, ou vamos continuar a sentir-nos ligados a ele, sem a sensação de encerramento – e, se sentirmos que de facto há essa possibilidade, prometer ao livro e a nós próprios que um dia voltaremos a tentar, noutra fase da nossa vida, quando tivermos outra disposição e outra maturidade.

AUTORIA

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A Inês Rebelo tem 19 anos e está no primeiro ano de Jornalismo.
Começou a ler com 4 anos e a escrever as suas criações com 9, sendo que foi sempre esta a sua grande paixão. Fez teatro durante oito anos, gosta de ler e, embora não interesse a ninguém, tem três tartarugas. Também gosta de cantar, mas para isso não tem muito jeito. Na ESCS MAGAZINE integra as equipas de Correcção Linguística e de Literatura, e escreve com o Antigo Acordo Ortográfico.