O “terror” está na moda
Desde muito jovem que comecei a desenvolver um gosto por filmes de terror. Cresci vendo esse tipo de filmes. Aliás, terror e animação eram quase os únicos géneros a que assistia. Contraditório, eu sei. E a verdade é que, ainda hoje, apesar de já ser muito mais aberto a outras opções, esses dois géneros continuam a ser sempre a minha primeira escolha. Gosto de ser assustado, gosto daquela adrenalina e daquele sentimento de suspense a cada passo que a personagem dá, enquanto caminha para uma misteriosa e barulhenta porta. E, da mesma forma como não fico três dias seguidos a rir por causa de uma comédia que tinha visto, também não fico traumatizado com os acontecimentos de qualquer filme de terror. Exceto o Chucky: ainda hoje não suporto aquele boneco.
Além de filmes, também li praticamente todos os livros da coletânea Arrepios (Goosebumps, em inglês) e adorava a maneira como R. L. Stine me cativava: A Noite do Boneco Vivo será para sempre o meu preferido.
O Halloween sempre foi a minha época festiva preferida e até tinha a minha própria tradição: em vez de ir pedir doces, ficava em casa a ver filmes de terror e a assustar as crianças que vinham pedi-los. E ainda hoje mantenho a tradição, tirando a parte de assustar crianças.
Contudo, sempre senti que o género do terror era algo “discriminado”. Sim, os filmes são previsíveis. Os grupos irão sempre separar-se. Alguém irá sempre tentar perceber de onde veio o barulho. Haverá sempre alguém que partirá qualquer parte do corpo enquanto corre pela sua vida. Todos nós sabemos que dificilmente algum filme de terror vencerá algum tipo de Óscar. É quase um facto que nenhum protagonista de um desse tipo de filmes levará para casa a estatueta de melhor ator/atriz. E encontrar um filme de terror avaliado acima de 6 pelo IMDb (Internet Movie Database) é bem mais difícil do que aquilo que possa parecer.
E senti muito isso à medida que ia crescendo, à medida que ia procurando por novos filmes para ver. Esse processo acabava, quase sempre, comigo a ver ou rever as mesmas sagas clássicas de sempre: Friday The 13th, Halloween e Pesadelo em Elm Street.
Na primeira década do novo milénio, acho que o terror foi um género que andou muito escondido do radar. Foi pouco explorado e, pior do que isso, mal explorado. A maioria das pessoas simplesmente já não tinha interesse no género. Se formos a pensar em clássicos da primeira década de 2000, ficamos reduzidos a uns três: Saw, que nem pode ser bem considerado terror; Atividade Paranormal e REC. Talvez também adicionando uma menção honrosa a Orfanato e The Ring.
Porém, acho que esse paradigma veio a alterar-se agora com a entrada da nova década. As pessoas começaram a recuperar o interesse em coisas paranormais e sustos. Séries como The Walking Dead e, especialmente, American Horror Story vieram ressuscitar o género E mais do que recuperar a sua reputação, o terror conseguiu entrar na moda e conquistar o seu espaço na cultura pop.
Só durante esta década, fomos presenteados com várias sagas que se tornarem blockbusters e sucessos mundiais, como Insidious e The Conjuring, que até teve direito a um spin-off, também ele de tremendo sucesso (Annabelle).
Depois foram muitos, os títulos individuais lançados que, para além de continuarem a contribuir para o crescimento do género, trouxeram qualidade e inovação na forma de se fazer terror. Filmes como It ou Lights Out são exemplos primordiais.
Mas, para mim, a cereja no topo do bolo surgiu no último mês de março, quando Get Out não só conseguiu uma nomeação para Melhor Filme, mas também arrecadou o Óscar de Melhor Argumento Original. Foi o merecido reconhecimento da qualidade que o género pode apresentar, nas devidas circunstâncias. Espero que essa nomeação sirva para motivar a continuidade da aposta no terror e que se produzam cada vez mais filmes e de formas mais variadas.
Por entre os fracos filmes, típicos do género, os filmes overhyped, comuns em todos os géneros, e os blockbusters fracassados, acho que é seguro afirmar que o terror está de volta. E espero bem que seja para ficar.
AUTORIA
Num universo tão vasto como o nosso, quantas são as pessoas que são açorianas (micaelenses), ouvem música todos os dias, não falham um jogo do Sporting, leem livros e veem wrestling? Algumas, reconheço. Mas a pessoa que está a redigir este pequeno texto introdutório chama-se André Medina, tem 20 anos e, há dois anos, embarcou na maior aventura da sua vida.
Sair de casa nunca é fácil, e fazê-lo quando não se sabe cozinhar nem dobrar roupa é ainda mais complicado. Mas, muitas saladas de atum, pizzas do Pingo Doce e noodles depois, aqui estou eu: vivo e no último ano do curso de Jornalismo.
E, em jeito de recompensa por ter sobrevivido a estes duros anos, tive o privilégio de poder ser o primeiro editor da secção de Deporto na MAGAZINE. Eu, uma pessoa que ainda não sabe dobrar uma t-shirt como deve ser.
De qualquer forma, espero poder retribuir a confiança depositada em mim e quero que todos se sintam bem-vindos a esta escola e a este magnífico projeto, que é a nossa querida ESCS MAGAZINE.