Pântano argumentativo
Este artigo é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
A natureza da retórica apologética religiosa não tem sofrido alterações significativas desde que Tomás de Aquino apresentou as suas Quinque viae – as cinco provas lógicas para a existência de uma divindade deísta – no século XIII. Podemos afirmar com relativa segurança que as asserções religiosas sobre a natureza do mundo têm-se subordinado ao avanço da ciência. À medida que a humanidade vai obtendo um maior conhecimento sobre a realidade que nos rodeia, o “Deus das lacunas” vai necessariamente tornando-se mais pequeno ou, no mínimo, mais diluído – a ascensão da neoespiritualidade de Deepak Chopra é exemplo disto. Quando antes a fúria de Deus era evocada para a explicação de certas catástrofes naturais, agora tais processos meteorológicos são bem compreendidos. Pela lei da Navalha de Occam, a evocação de uma divindade como causa desses eventos torna-se desnecessária.
Quando no passado a diversidade das espécies e a sua magistralidade só poderia ser explicada por um qualquer ato ou uma intervenção celestial, agora temos conhecimento da mutação genética, das leis da seleção natural e da teoria evolucionista de Charles Darwin.
A obtenção de conhecimento do real só pode ser executada pelas metodologias operativas da ciência. Extrapolar conclusões sobre a natureza da realidade concreta através de alguns jogos semânticos da filosofia formal é no mínimo algo absurdo. Por mais valor que se dê ao espírito e à mente inquisitiva do filósofo, a verdade é que a filosofia pergunta, mas a ciência responde. É por isto que, em milhares de anos de avanços na medicina e na química, a ruminação de perguntas associadas aos conceitos de livre arbítrio, determinismo, moralidade, estética e solipsismo ainda mal saiu do pântano de onde nasceu.
Há espaço para ambas, naturalmente, desde que falemos de um racionalismo assente em provas empíricas. Se não o fizermos, danificamos a alma académica e damos razão a Stephen Hawking, quando este declara a filosofia como morta – “Philosophy has not kept up with modern developments in science, particularly physics. Scientists have become the bearers of the torch of discovery in our quest for knowledge”.
AUTORIA
João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.