Perfeitos desconhecidos: Quantos segredos somos capazes de esconder?
O telemóvel é uma das grandes invenções da história da humanidade, pois transformou a forma como vemos o mundo e como nos relacionamos com ele. De um momento para o outro, todas as pessoas que conhecemos passaram a estar à distância de um clique. Mas à parte das vantagens que nos trouxe, o telemóvel tornou-se também o nosso maior cúmplice. Já pensaste na quantidade de segredos que o teu telemóvel esconde?
Um grupo de sete amigos de longa data decidiu juntar-se num dia de eclipse lunar para realizar um jantar. Jura uma lenda antiga da civilização Maia que este é um dia onde coisas estranhas acontecem. Com isto em mente, os amigos, todos eles comprometidos – ainda que um dos membros de um dos casais não tenha comparecido -, decidem fazer um jogo. O desafio era simples: todos teriam de deixar o seu telemóvel em cima da mesa e qualquer mensagem, chamada ou notificação recebida durante o jantar seria lida em voz alta. Será este um jogo perigoso?
À medida que as mensagens e chamadas foram aparecendo nos ecrãs dos telemóveis foram descobertos segredos e feitas confissões. Cada personagem demonstrou um lado seu que era desconhecido para todos os outros, revelando que, afinal, todos viviam sob uma máscara.
Toda a ação desenvolve-se num só espaço: a casa de Eva. Esta característica faz com que o espetador se concentre apenas no presente sem relacionar este com a história da própria personagem, até porque o filme não nos deixa saber nada sobre o passado ou sobre o futuro de cada uma destas pessoas. Apenas importa o momento que ali se vive, as verdades ali reveladas e as consequências imediatas de cada uma delas. Mas será que saberão todos lidar com a verdade?
No fundo, este é um filme que gira em torno da traição e das várias formas que esta pode assumir, ainda que nunca se julgue as opções dos personagens. Este não é um filme sobre se é ou não errado trair, mas sim de que forma devemos lidar com isso. O diálogo, ação sobre a qual se centra o filme, serve apenas para relatar aquilo que acontece na vida destas pessoas, a verdade nua e crua.
No final, a mensagem que se passa é ambígua, mas as excelentes interpretações dos atores dão uma grande intensidade a este filme que tem, apesar de tudo, uma ação escassa. “Perfeitos desconhecidos”, do realizador Álex de la Iglesia, é uma ótima reflexão sobre a forma como nos escondemos do resto do mundo e como o telemóvel se tornou o aliado perfeito para isso. Apesar de já ter estreado há muito nos cinemas, é um filme que vale a pena ver.
E tu terias coragem de revelar todas as tuas mensagens?
Artigo revisto por Catarina Gramaço