Relatividade…?!
A minha primeira palavra foi “não”. Não me repreendam desde já, analiticamente falando é a palavra mais valiosa que poderia proferir nessa idade, já que, nesta pequena redoma que é o mundo utópico dos bebés, tudo é dado ou oferecido não havendo sequer necessidade de pedir, apenas selecionar o prazer recebido. E, diretamente relacionado ou não, a verdade é que costumo ver sempre o copo meio vazio. Sou o que corriqueiramente se denomina por pessimista. Acho que a generalidade dos portugueses o é. No entanto, conheço muitas pessoas que desafiam esta regra, olham para o mundo e veem bondade, refletem no seu sorriso a beleza que os rodeia, espalhando inveja aos que se arrastam pelo mundo em vez de voar.
Não pretendo mostrar quem tem razão, qual das perspectivas poderia ser mais produtiva para uma vida em sociedade, não é isso que me leva aqui, mas sim a apreensão da magnificência deste universo que permite duas realidades opostas coabitarem no mesmo objeto. Nenhuma está errada, ambas salientam pontos considerados verdadeiros. A relatividade patente é o que me fascina. A possibilidade real de se apropriar do mundo à sua maneira – mais – de o próprio mundo não poder ser definitivamente definido!
O tempo é relativo! Se, a partir do momento em que se aceita como facto, a nossa própria consciencialização do mundo sofre uma rotura irreparável, permitindo vislumbrar a perfeição desta criação sem autor aparente e sem fim à vista.
Passados 100 anos, o vislumbre das ondas gravitacionais, teorizadas por Einstein, permitiu mais uma disrupção com a nossa conceptualização do mundo. Não vos pretendo aborrecer (com explicações detalhadas) ou a mim (ter de fazer pesquisa pois definitivamente não sou nenhum físico), o que importa compreender é a presunção humana. A mim me incluo, é claro: a facilidade com que emito sentenças sobre determinado assunto até a mim me assusta, pois, além de a minha visão do mundo ser baseada nos filtros que coloquei aquando a sua receção, também o próprio mundo não se mantém inerte. Parece simples, não é? Se a nossa visão é relativa e o próprio mundo também, então palavras como compreensão, aceitação, deveriam estar na ponta da língua de todos os seus intervenientes, mas infelizmente tal não acontece.
Acredito tratar-se de um medo da incerteza. O ser humano abomina a ignorância, agarra-se à religião, às superstições (toma parte dos ritos de forma a tentar controlar o incontrolável) entre outras formas de se enganar e fintar o vazio, esse desconhecimento brutal de si e de o que o rodeia, os quês e porquês sem resposta, apenas silêncio impossível de lidar. Por isso agarra-se às verdades fáceis e pacificadoras, rejeitando instintivamente perspetivas que ameacem rasgar o seu frágil mundo. É compreensível e até aceitável, mas não o deveria ser. A constante evolução do mundo devia ser extensível ao ser humano sempre, e não só às vezes.
Termino como começo: “não” foi a minha primeira palavra. Não. Não às sentenças, não à incompreensão, e principalmente, não ao conforto da aceitação de um mundo estático. Não somos mais que uma fotografia, somente um fragmento bidimensional de um todo, e não nos podemos permitir esquecer que o planeta em que habitamos é, efectivamente, redondo.
Um homem fascinado.