Cinema e Televisão

Rosie, contigo aprendemos uma grande lição

Em chinês, mah significa cavalo, mãe e um símbolo que transforma uma frase numa pergunta. Para Rosie Ming (Sandra Oh), uma jovem com um passado doloroso mas um futuro promissor, essa palavra significará mais que aquilo que poderemos imaginar. No Monstra, festival de animação de Lisboa que a tua Magazine acompanhou, esta longa-metragem teve o devido destaque. Queres entrar no universo da epifania poética desta pequena grande mulher connosco?

Window Horses: The Poetic Persian Epiphany of Rosie Ming pode ser considerado um título demasiado extenso a priori; no entanto, quando assistimos à exibição desta criação da realizadora canadiana Ann Marie Fleming, compreendemos que as letras não são suficientemente esclarecedoras. Para angariar dinheiro para produzir o filme, Ann Marie fundou uma campanha Indiegogo (é um site de financiamento coletivo internacional fundado em 2008 por Danae Ringelmann, Slava Rubin, e Eric Schell; a sua sede é na Califórnia), onde obteve oitenta mil dólares em cinquenta dias, com o auxílio de setecentos e trinta contribuidores oriundos de 28 países.

Depois de ter a quantia necessária para dar vida à poetisa curiosa e humilde, levou-a até a um festival de poesia no Irão, com o pretexto de que o júri gostara muito do seu primeiro livro, My Eye-full Poems by a person who has never been to France. A jovem, apaixonada pela cidade do amor, parte para Shiraz somente com uma misteriosa caixa que a avó lhe deu e um relógio do avô.

Do Canadá até ao Irão, Rosie sofre um choque cultural. Passa dos seus elásticos cor de rosa para um chador (termo que se refere à veste usada no Irão pelas mulheres; uma capa ou manto negro, usado por cima da roupa, que cobre todo o seu corpo excetuando a cara; a sua utilização não é obrigatória), de tocar livremente guitarra para ser encarada como provocadora por cantar sozinha em público. Apesar disso, a forma como a poesia cria pontes entre as mais variadas culturas é constantemente enfatizada – não apenas no presente, mas através de séculos. Por exemplo, a vida e obra de Hafiz, poeta persa, é apresentada no filme.

Todos os artistas são feitos de pormenores peculiares e Ann Marie Fleming não foge à regra. Nos anos 80, como estudante universitária de animação, passou algum tempo doente em casa, pois a sua mobilidade ficou severamente afetada após um acidente de viação. Olhava pela janela para os três cavalos que passeavam pelo seu jardim e alimentava-os diariamente. E, como que por coincidência, Window Horses é descrito como uma janela para a cultura e os cavalos são sinónimo de família.

Com os movimentos tão limitados, criou Stick Girl, aquele que considera ser o seu avatar. Mais de trinta anos depois, esta rapariga foi parar ao grande ecrã como Rosie Ming. Porque uma janela é a lente através da qual vemos o mundo, os cavalos são animais adoráveis que simbolizam os géneros feminino ou masculino em diversas culturas e Stick Girl foi e sempre será a musa da realizadora deste grande filme.

Para Ann Marie Fleming, Window Horses “existe para tentar adicionar mais paz, amor e compreensão a uma sociedade cada vez mais complexa e conflituosa, através da arte, da poesia, da História e da cultura”.

Em outubro do ano passado, Window Horses recebeu o prémio Best BC Film Award e Best Canadian Film Award no Vancouver International Film Festival‘s BC Spotlight Gala e o Prémio do Júri no Bucheon International Animation Festival. Em novembro, foi a vez de receber o Centennial Best Canadian Film or Video Award no Toronto Reel Asian International Film Festival, e de ter sido integrado na lista anual dos dez melhores filmes canadianos do Toronto International Film Festival. Por fim, mas não menos relevante, foi galardoado com a menção honrosa do júri da Competição Longas no Monstra.

Mesmo que não fosse premiado, uma coisa é certa: a protagonista pode ter tido a maior epifania da sua vida ao compreender a essência das suas raízes, mas os espetadores que estiveram no Cinema São Jorge no dia 24 de março encontraram algum entendimento dentro de si ao acompanhar a sua viagem de autoconhecimento, neste séc. XXI constituído por grandes divisões.

AUTORIA

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Se virem uma rapariga com o cabelo despenteado, fones nos ouvidos e um livro nas mãos, essa pessoa é a Maria. Normalmente, podem encontrá-la na redação, entusiasmada com as suas mais recentes descobertas “AVIDeanas”, a requisitar gravadores, tripés, câmaras, microfones e o diabo a sete no armazém ou a escrever um post para o seu blogue, o “Estranha Forma de Ser Jornalista”… Ah, e vai às aulas (tem de ser)! Descobriu que o jornalismo é sua minha paixão quando, aos quatro anos, acompanhou a transmissão do 11 de setembro e pensou: “Quero falar sobre as coisas que acontecem!”. A sua visão pueril transformou-se no desejo de se tornar jornalista de investigação. Outras coisas que devem saber sobre ela: fica stressada se se esquecer da agenda em casa, enlouquece quando vai a concertos e escreve sempre demasiado, excedendo o limite de caracteres ou páginas pedidos nos trabalhos das unidades curriculares. Na gala do 5º aniversário da ESCS MAGAZINE, revista que já considera ser a sua pequena bebé, ganhou o prémio “A Que Vai a Todas” e, se calhar, isso justifica-se, porque a noite nunca deixa de ser uma criança e há sempre tempo para fazer uma reportagem aqui e uma entrevista acolá…!