Seremos mesmo racionais?
O tema dos refugiados fez correr bastante tinta nas últimas semanas, sobretudo depois da fotografia de um pequeno rapaz morto numa praia na Turquia. Contudo, é com esse propósito que escrevo este artigo. Penso que falta ainda esclarecer a grande maioria das pessoas sobre o que realmente se passa na Síria.
Permitam-me que recue um pouco no tempo para contextualizar toda esta situação. A Primavera Árabe, que começou em 2011, fez com que uma grande parte de regimes totalitários do Médio Oriente caíssem e dessem lugar a democracias. Contudo, o caso sírio foi diferente. A família Al-Assad, que governa o país desde os anos 60, resistiu e provocou uma violenta guerra civil entre as forças do governo, as forças da oposição e ainda o auto-denominado Estado Islâmico. A Síria vive, assim, uma guerra civil na qual diariamente se têm cometido as maiores atrocidades contra a humanidade.
O que fez a União Europeia relativamente a tudo isto? Pouco, muito pouco. A UE, aquando da sua formação, teve como grande pilar, além da vertente económica, afirmar-se como um dos grandes pilares sociais do mundo contemporâneo; ora, se olharmos para algumas das atitudes que têm sido tomadas pelos líderes europeus, estamos bem longe desse pressuposto. Não quero, até porque confesso ter alguma dificuldade em discutir com xenófobos e racistas (sim, porque, por mais que se tentem esconder atrás de falácias, é isso mesmo que são), perder o meu tempo a falar do primeiro-ministro inglês, David Cameron, ou de Viktor Orbán, primeiro-ministro Húngaro, pois as suas tristes atitudes falam por si.
No sentido contrário, gostava ainda de elogiar a posição que a Alemanha adoptou sobre esta terrível problemática. Os alemães vão acolher apenas neste ano (2015) cerca de 800 mil refugiados. Tomam esta atitude para limpar a sua imagem relativamente ao seu passado? Pouco me importa, mas a verdade é que a chanceler alemã, Angela Merkel, que na grande maioria dos temas falhou redondamente, está a comportar-se à altura.
Pessoalmente, não consigo entender como é sequer possível ponderarem não acolher os cerca de 4 milhões de refugiados sírios. Independentemente de tudo o resto, trata-se de uma questão de proteger a vida humana e, no final do dia, esse será sempre o valor mais alto. No entanto, se este argumento não for forte o suficiente, façam o seguinte exercício: coloquem-se no lugar dos pais sírios, que vêem todos os dias a sua cidade ser bombardeada, colocando a vida dos seus filhos em risco. Qual seria a alternativa a fugir de um clima de guerra onde as suas vidas são postas em risco todos os dias?