SURMA: “Tenho imensos macaquinhos na cabeça”
Surma é uma verdadeira one-woman show. Guitarra, sintetizador, baixo e voz: tudo se liga num ambiente experimental e sereno que tem chamado a atenção de cada vez mais pessoas. Atrás dela vão projetos como “The Backwaters” ou “The Screaming Fantasy”, que a ajudaram a encontrar o seu próprio som e a arriscar fazer trabalhos a solo: “É muito diferente agora que estou sozinha em palco. Quando tocava com bandas, se me enganava, alguém podia cobrir-me de modo a que não se notasse o erro; agora, tenho de me desenrascar”.
Surma começou a ganhar uma identidade própria, mais forte a cada dia que passa, deixando Débora Umbelino perder as suas forças: “hoje em dia tratam-me mais por Surma. Penso que a Débora foi esquecida ao longo do tempo”. O nome surgiu quando a artista viu documentários sobre tribos africanas, mais especificamente da Etiópia, onde as mulheres utilizavam alargadores e pratos labiais.
Mas não foi nesse momento que Débora começou a pensar mais out of the box. Desde cedo que se apaixonara por música, começando pelos discos country do pai. Mais tarde, foi a descoberta de “barulhos estranhos” que a fez passar de uma formação mais académica – que passou por estudar baixo no Hot Club – para algo ligado ao mundo de noise-rock, vocais atmosféricos e produções minimalistas.
“Se ouvires música hoje em dia, já está tudo feito, por isso eu quis ir para algo diferente. Queria aventurar-me”.
E nessa aventura traz consigo influências de St. Vincent, Grouper, Agnus Obel e Rhye. Admite que antes de cada concerto ou de cada sessão de gravação não gosta de ouvir nada, para que não se deixe influenciar. Pois, para Surma, a música é algo espontâneo que se manifesta de uma maneira arguta e imprevisível. E é no seu ainda pequeno catálogo que a diversidade predomina: há uma ponte entre o post-rock, o jazz, o noise e o experimentalismo da cantora, que, quando é tocado ao vivo, cria uma relação mais intimista com a sua audiência. “Isto ao vivo ainda é novo para mim, mas, até agora, gosto muito de ver a reação do público”.
No seu processo de composição, Débora segue os passos de outras grandes artistas como Sheryl Crow ou Tori Amos: a última parte são as letras. “Costumo ser muito má nas minhas letras, por isso é que são a última parte. As pessoas não compreendem aquilo que digo”. Este método funciona como um jogo de puzzle, em que se vai fazendo pequenas tentativas, até tudo encaixar na perfeição.
Os planos para o futuro são incertos e Surma também não é pessoa de se preocupar muito com tal assunto: “nem eu mesma sei o que vai acontecer”. Mas já tem eventos agendados: no próximo dia 4 de junho estará no festival “A Porta”, na sua cidade natal – Leiria; um mês depois, no dia 14, estrear-se-á no Super Bock Super Rock. Entretanto, pretende também concluir os estudos em pós-produção visual – ferramenta que servirá para os seus espetáculos vindoiros.
E em relação ao novo álbum? “Maasai”, o primeiro single, é um pequeno cheirinho do trabalho que até agora não tem data oficial de lançamento, mas que poderá chegar às lojas em janeiro ou fevereiro do próximo ano.
Este verão vai ser ocupado para Débora Umbelino, uma vez que Surma tem ganhado cada vez mais fama, construindo uma identidade nova. Contudo, daremos tempo ao tempo. Citando a própria artista: “tenho imensos macaquinhos aqui na cabeça, como sempre, mas logo veremos. As coisas vão-se resolver”.