Cinema e Televisão

The Menu: A brilhante sátira da elite económica

The Menu já chegou à Disney+ e promete entreter de forma inteligente e criativa. Assim como o nome revela, trata-se de uma experiência gastronómica de elevado nível, que inclui uma deslocação a uma ilha isolada, repleta de elementos naturais usados na confeção das refeições. Dirigido por Mark Mylod, The Menu guia-nos pela história de um grupo de dez convidados especiais, escolhidos a dedo (pun not intended). Provenientes de classes sociais mais altas, estes embarcam numa prova imersiva de degustação de um menu altamente estruturado e planeado para alavancar todo o momentum desejado.

O aclamado chefe Slowik (Ralph Fiennes) é a mente principal por detrás da experiência: é o cabecilha de todo o enredo misterioso, com uma aura sombria, mas inteligente e carinhosa ao mesmo tempo. É ele quem prepara o menu, quem escolhe os convidados e quem engendra toda a ação, em conjunto com os seus empregados. A sua aparência pálida e a sua postura rígida transmitem desconforto, mas permitem o entendimento de uma certa ironia. Tyler (Nicolas Hoult) é o grande foodie do filme, retratado de maneira a causar algum nervosismo (para não dizer cringe) no espetador a partir dos seus comentários sobre a comida e respetiva preparação. É um grande fã da gastronomia, cego pelo entusiasmo e interesse no que sucederá. Margot (Anya Taylor-Joy) é a acompanhante que parece ter mais sentido, com algum nível de sassiness e desconfiança do que se pudesse estar a passar. É ela que desafia o chefe e o enfrenta, mas também é ela que, no final, mostra a sua coragem e consegue realmente tocar-lhe no coração, salvando-se a si mesma. No fundo, o filme conta com mais personagens importantes para o desenrolar da história, representando de forma brilhante tanto a elite económica, como a classe que a serve.

Fonte: IMDb

A magia deste filme assenta nos seus visuais e no espaço retratado. A cena inicial, repleta de luz e sol, é afastada e dá espaço à escuridão, mostrando o tempo que passa em redor da ação. Este escurecer reflete exatamente a energia que o espetador irá sentir ao longo do filme. Ao embarcarem numa curta viagem que leva o grupo à ilha isolada, o espetador acompanha o cenário através do olhar atento de Margot: o barco que os deixa e parte; a solidão da ilha de cinco hectares; a casa do chefe no meio da floresta (em que ninguém pode entrar); a entrada no grande bloco cinzento, que é o restaurante, imediatamente trancado após a entrada; os diversos empregados à volta da zona de degustação e a constante perseguição dos mesmos para que todos os convidados se mantenham na sala. Além deste apontamento, importa mencionar que a representação visual da confeção das refeições e o enquadramento visual dos pratos são esteticamente apelativos. A inclusão de shots em que simplesmente se mostram os pratos, acompanhados de uma pequena legenda, beneficia a narrativa no sentido de comunicar ao espetador o que foi cozinhado, mas também a intenção por detrás da confeção.

Durante a refeição, aos convidados são servidos alguns pratos. A Taco Tuesday vira ‘Taco Exposed’ e em cada tortilha surgem fotografias gravadas com uma máquina de cozinha de alta tecnologia. Nelas, são expostas as realidades sombrias por detrás de cada pessoa sentada, desde evasão fiscal a traições. Contudo, as tortilhas servidas na mesa de Tyler e Margot apenas apresentam fotografias de Tyler nessa noite. Este momento já está foreshadowing o que se seguirá. A intenção do chefe ao convidar Tyler e apenas permitir, no mínimo, duas pessoas numa reserva veio revelar a verdadeira maneira de ser desta personagem. Mesmo sabendo o final do menu, Tyler não abdicou da experiência e ainda foi insensível o suficiente para levar Margot consigo, quando a sua namorada terminou a relação. Na verdade, Margot é o mistério da história e não fazia parte da elite económica sentada na sala.

Fonte: BuzzFeed

Após este momento decisivo, surge uma das cenas mais sangrentas, e que lança a narrativa para outra velocidade: será teatral? Esta é a conjuntura em que a energia do filme dá uma reviravolta e parte para a surpresa da experiência: todos foram investigados à priori e todos precisam de morrer para que o menu seja efetivamente servido. O que se segue é a continuação de outros pratos servidos e de outros acontecimentos chave, com o menu terminado através de um birds eye shot – estava montada a sobremesa espetacular, repleta de cores vibrantes e bem quente.

The Menu é uma crítica à elite económica e à sua faceta egoísta, com um toque de comédia. Com um elenco de excelência, é uma história que transmite uma mensagem ao espetador, ressoando até nos mais distraídos. The Menu é uma jornada labiríntica sem solução para quase todos, o que essencialmente transmite o estado de espírito do chefe que a criou, mas também as consequências de uma vida levada a agradar os outros.

Fonte da capa: Digital Spy

Artigo revisto por Andreia Custódio

AUTORIA

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A Laura não sabe estar quieta. Adora boas recomendações - especialmente de filmes bombásticos - e aceitou a oportunidade de ler mais sobre a área ao ser editora de Cinema e Televisão. A escrita sempre fez parte desta inquietude, com especial atenção para o despejar de emoções após uma sessão de cinema. Coloquem um bom neo-noir, fervam um bom chá de hibiscus e têm a sua companhia para sempre.