The Places I’ve Cried in Public, de Holly Bourne
Vou começar por admitir que nunca tinha ouvido falar deste livro, nem da autora, mas não pude deixar de espreitar a sinopse na contracapa depois de ver a capa e as lindas páginas pintadas a roxo. Fiquei intrigada e acabei por comprar o livro, que me surpreendeu bastante.
The Places I’ve Cried in Public é o livro mais recente de Holly Bourne, autora que já conta com vários best-sellers, como a série de livros Spinster Club, onde é abordado o tema do feminismo e que parece ter feito sucesso entre muitos leitores.
Acompanhamos a história de Amelie e a forma como esta revive os momentos que culminaram na situação em que se encontra no momento em que a história se inicia: sem amigos ou ninguém para a apoiar e completamente perdida. Depois de o namorado acabar a relação com Amelie, esta começa a tentar perceber o que falhou para tudo ter desabado em poucos meses.
Esta podia ser mais uma história de amor que acabou mal, mas é muito mais do que isso. A forma como Holly Bourne guia o leitor pela história de Amelie é extremamente bem feita. Assim, cada capítulo descreve um sítio onde a personagem principal chorou em público, bem como o que a levou até aí. Os comentários da Amelie do presente são fundamentais para o leitor ir percebendo o que poderá ter acontecido e entender como os pensamentos da jovem, que, embora sejam hoje muito diferentes do que uma vez foram, continuam bem agarrados a situações bastante problemáticas, que esta se esforça por esquecer.
Quando Amelie se muda da sua cidade natal, Sheffield, no norte de Inglaterra, para uma cidade perto de Londres, após o seu pai ter de mudar de emprego, esta tem de deixar tudo para trás: amigos que a compreendem, uma cidade que adora e que não quer abandonar e um namorado recente. O plano é simples: terminar os dois anos que lhe restam de secundário e entrar na Universidade de Manchester com Alfie, o seu namorado. Contudo, este propõe que ambos devem ter liberdade para namorar outras pessoas durante o tempo em que vão estar separados. Apesar de não gostar da ideia, Amelie acaba por concordar, mas a sua vida vai mudar por completo quando conhece Reese.
Antes de avançar, é importante mencionar que este livro contém descrições de situações de abuso emocional e físico. Quando a autora nos introduz Reese, este é descrito como um rapaz confiante e com quem todas as raparigas querem namorar; contudo, também percebemos que esta não é toda a verdade através dos conselhos da amiga de Amelie para que esta se afaste dele e ainda das reflexões da personagem principal do presente.
A pouco e pouco, vemos como Amelie se vai apaixonando por Reese, mas também como este a começa a manipular e a exibir comportamentos controladores. Os momentos em que Reese parece um príncipe encantado com Amelie são constantemente intercalados com as reflexões da jovem no presente, que comenta todos os sinais de abuso que não viu na altura. Estas cenas foram muito desconfortáveis de ler e deixaram-me muito frustrada com toda a situação, como acho que a autora queria. O leitor consegue entender todos os sinais e indícios dos quais, embora não tenha percebido no passado, a Amelie do presente nos alerta.
Depois de toda a relação ser exposta e de percebermos como Reese manipulou e abusou de Amelie, ainda que esta tenha tido muita dificuldade em realmente entender isso, percebemos que este ainda quer ter contacto com a jovem e, apesar de começarmos a ver a sua recuperação, a verdade é que é somente após Reese sair por completo da sua vida e esta perceber o que aconteceu é que se consegue sentir melhor.
Sem dúvida que as minhas partes favoritas do livro foram as de Amelie na terapia, onde esta começa a entender o que aconteceu. Também a cena com Alfie e Hannah, onde a personagem principal desabafa e confessa finalmente o que aconteceu, me marcou imenso.
Gostei bastante do livro e acho que aborda um tópico muito importante de uma forma muito boa. Só gostava de ter tido oportunidade de ver mais cenas da jovem na terapia e do intervalo de tempo entre a situação da Amelie do presente no início do livro em relação à do final.
Resumindo, recomendo o livro. A forma de narração é diferente e é muito bom ler a história de uma personagem enquanto a mesma já faz comentários com base numa perspetiva diferente. A forma como a relação de Amelie e Reese se desenvolve, fazendo com que o leitor perceba o seu cariz abusador, segundo a Amelie do presente, é algo que adorei!
Artigo revisto por Ana Roquete
AUTORIA
O meu nome é Mariana Ribeiro e pode parecer estranho, mas uma das coisas que mais gosto de fazer é planear viagens, mesmo que ainda não as tenha marcado. Aliás, essa foi uma das razões para começar a escrever para a Capital: conseguir pesquisar sítios novos para visitar e partilhá-los com outras pessoas!