“Todos me abandonaram, só o público nunca me esqueceu”
Ainda não eram 21h e já a fila se formava fora do icónico Politeama. O imenso público que se encontrava à porta ansiava por saber mais um bocadinho sobre aquela que é considerada por muitos a voz de Portugal. Previa-se ali uma sala cheia, mesmo numa noite de quarta-feira. Estava uma autêntica atmosfera quente e agradável de primavera, mesmo ainda sendo a última semana de inverno.
Eram 21h35 quando as luzes da sala do histórico teatro Politeama se apagaram. A sala estava praticamente esgotada, mesmo após mais de um mês em cena. O exuberante candeeiro de teto reluzia, tal como os olhares dos espetadores durante o seguimento de todo o espetáculo. O pano levantou e surgiu a palavra “Amália” no cenário em letras vermelhas. Era agora, ia começar.
Filipe la Féria já havia tido este musical em cena entre 1999 e 2005, tendo regressado ao palco do Politeama no mês passado. Fora um verdadeiro sucesso durante esses anos em exibição, contando com milhares de representações e vários milhões de espetadores.
A peça, em forma de musical, passa em revista a vida de Amália Rodrigues, desde que era uma criança e cantava na rua, vivendo com a sua avó em Lisboa, passando por todo o seu crescimento e amadurecimento. São retratados os marcos importantes da sua célebre carreira, até a uma fase mais madura da vida da cantora que acaba por regressar ao seu amado Portugal e ao público que sempre amou e para o qual dedicou a sua vida. A frase “Todos me abandonaram, só o público nunca me esqueceu” foi uma das frases da noite, interpretada com toda a garra por Alexandra.
Três atrizes diferentes deram corpo a Amália. Em criança por Madalena Gil, enquanto jovem por Anabela e na idade adulta por Alexandra. O elenco conta com presenças de Carlos Quintas e Tiago Diogo, bem como dezenas de bailarinos e figurantes.
As paixões e desilusões de Amália não foram esquecidas durante esta encenação, fazendo com que consigamos sentir-nos perto da eterna fadista e viver cada momento com se lá tivéssemos estado presentes. A discografia de Amália – destacando-se temas como Gaivota ou Barco Negro – é interpretada com pompa e circunstância. É um espetáculo extremamente visual e sonoro, com um cenário completamente elaborado.
Um público bastante heterogéneo, desde crianças a adultos e mesmo muitos jovens, aplaudiu as atuações e interpretações de todo o elenco, em especial as vozes excecionais dos cantores, vezes e vezes sem conta durante todo o espetáculo. Foi notável a presença de imensos estrangeiros na peça, que continha algumas informações em português, inglês e francês, que acompanharam a peça num teleponto colocado no topo do palco – é notável o alcance mundial que a figura de Amália conquistou.
No fim, uma ovação de pé que durou vários minutos e até teve direito a alguns gritos que ecoavam “Bravo” fez estremecer o Politeama. A peça foi um completo sucesso – todo o público vibrou com a obra de Filipe la Feria e muitos foram os comentários positivos após o espetáculo, pois muita gente, nos corredores e fora do teatro, falou bastante bem da peça.
Este musical é, para além de uma grande homenagem de la Feria a Amália, uma homenagem ao Fado – Património Mundial pela Unesco -, um dos maiores símbolos de Portugal, presente na icónica frase de Amália “O que interessa é sentir o fado. Porque o fado não se canta, acontece. O fado sente-se, não se compreende, não se explica”. “Amália – O Musical” está em cena de quarta a domingo às 21h30, com sessões às 17h no domingo. Os bilhetes variam entre os 10€ e os 30€ e encontram-se disponíveis na bilheteira online, na Fnac e nos locais habituais.