Tomb Raider – uma adaptação fiel, mas não mais do que isso
(Fonte: Games4U)
A presença de Lara Croft no grande ecrã não é novidade. No início do século, Angelina Jolie tinha dado vida à personagem dos videojogos em dois filmes. Contudo, em 2013, a Crystal Dynamics achou que deveria ser feita uma reinvenção da personagem e dar início a uma nova etapa da sua história. Assim, nasceu Tomb Raider, videojogo que nos apresenta uma nova Lara: mais jovem, mais frágil, menos experiente e, acima de tudo, menos invencível. Somos confrontadas/os com uma Lara Croft que ainda está a dar os seus primeiros passos no mundo das descobertas, da História e da Arqueologia, mas desde cedo conseguimos ver toda a sua paixão, as suas inteligência e coragem.
Cinco anos mais tarde, a transformação da super-heroína do mundo “pixelado” chega a Hollywood, pelas mãos da jovem atriz Alicia Vikander. E essa desconstrução ou reconstrução da personagem é notada logo na primeira cena do filme, com Lara a ser esmurrada pela sua adversária, num combate de boxe. É-nos imediatamente transmitida a ideia de fragilidade. Esta “nova” Lara não é invencível.
Para quem é adepta/o dos jogos, torna-se impossível dissociar o jogo do filme, até porque, contrariamente ao que costuma acontecer na maioria das adaptações cinematográficas de jogos, a película não procura trazer elementos novos, limitando-se, de certa forma, a recriar os principais momentos dos videojogos. E esta é, a meu ver, a principal falha do filme.
Joguei os dois últimos títulos lançados pela Crystal Dynamics e adorei ver a recriação das mesmas cenas, dos movimentos e até das expressões faciais numa tela. Aliás, acho que essas foram as cenas mais bem realizadas e conseguidas. Quem é fã dos videojogos não pode ficar desapontado/a com a qualidade ou fidelidade das cenas presentes no filme. Mas o problema é que Tomb Raider não consegue ultrapassar isso. Não mostra capacidade para transcender essa condição de cópia. Se as cenas de ação estão bem construídas e as referências aos jogos estão lá (o filme procura criar uma mistela entre os dois últimos jogos da sequela Tomb Raider), o roteiro do filme é demasiado fraco: as personagens (excluindo Lara) são vazias; a maioria dos diálogos é cliché, e toda a construção do filme é previsível e parece ser feita a correr.
Nas poucas alturas em que o filme procurou despregar-se do jogo e criar a sua própria história, acabou por falhar, como por exemplo na introdução de Lara Croft como uma jovem que recusa aceitar a morte (e a fortuna) do pai, trabalhando, desta forma, como estafeta, para fazer face às despesas. É uma contextualização que acaba por ser malfeita: não nos é dado tempo ou dada informação suficientes para compreendermos aquela situação. E o filme também não se mostrou muito preocupado com isso. Mas, mais do que isso, acho que o meu ponto pode ser explicado à medida que o filme se foi desenvolvendo e caminhava a passos largos para um cenário que era cada vez mais previsível: o pai de Lara Croft afinal estava vivo.
Percebo que a ideia aqui fosse a de trazer mais alguma emoção para o filme. A de procurar aquela ligação sentimental entre as personagens e a audiência, de forma a combater a inexistência de uma trama romântica no filme. Mas “renascer” o pai de Lara Croft era a pior forma de o fazer. “Dar” vida a Richard Croft (Dominic West) acabou por desviar, por completo, o foco e o sentido de toda a história, que se deveria centrar em Lara Croft e na sua jornada de origem.
No mundo dos videojogos, Lara não continua as investigações e as pesquisas deixadas pelo pai na esperança de o conseguir encontrar ainda com vida. Fá-lo para poder satisfazer o desejo de ver aquela aventura e aquela descoberta serem levadas até ao fim. É esse sentimento de completar o trabalho do pai que leva Lara a embarcar nesse perigoso mundo de enigmas e descobertas.
Apesar das visíveis fragilidades, no que toca ao roteiro do filme há que destacar a performance de Alicia Vikander, que se mostrou mais do que apta para reencarnar esta nova versão de Lara Croft. Conseguiu manter uma postura firme em cada cena e tornar a sua personagem mais interessante: o que deixa boas perspetivas para um futuro filme.
Em suma, Tomb Raider não foi mau, de todo. Oferece-nos umas cenas de ação incríveis e é, facilmente, a adaptação mais fiel de um videojogo que eu alguma vez vi. Porém, não mostra força suficiente para acrescentar algo mais e deixar de ser uma mera cópia dos melhores momentos de um videojogo.
AUTORIA
Num universo tão vasto como o nosso, quantas são as pessoas que são açorianas (micaelenses), ouvem música todos os dias, não falham um jogo do Sporting, leem livros e veem wrestling? Algumas, reconheço. Mas a pessoa que está a redigir este pequeno texto introdutório chama-se André Medina, tem 20 anos e, há dois anos, embarcou na maior aventura da sua vida.
Sair de casa nunca é fácil, e fazê-lo quando não se sabe cozinhar nem dobrar roupa é ainda mais complicado. Mas, muitas saladas de atum, pizzas do Pingo Doce e noodles depois, aqui estou eu: vivo e no último ano do curso de Jornalismo.
E, em jeito de recompensa por ter sobrevivido a estes duros anos, tive o privilégio de poder ser o primeiro editor da secção de Deporto na MAGAZINE. Eu, uma pessoa que ainda não sabe dobrar uma t-shirt como deve ser.
De qualquer forma, espero poder retribuir a confiança depositada em mim e quero que todos se sintam bem-vindos a esta escola e a este magnífico projeto, que é a nossa querida ESCS MAGAZINE.