Última Hora: mais atual era impossível
Extra, extra! São diálogos pujantes, repletos de intenção e musicalidade, bastante ação dramática, performances exímias movimentadas a whisky e muitas cigarradas! É isso que aguarda o público que se preste a ver Última Hora, uma das mais recentes coproduções entre o Teatro Nacional D. Maria II e a Força da Produção.
O póstumo advento da internet traz a cena o término do Última Hora, um jornal periódico movido pelo apaixonado labor dos seus editores, redatores e (in)cansáveis estagiários, numa altura em que a desinformação, a publicidade online e o sensacionalismo mediático formam uma autêntica tríade colossal e ciclópica, devoradora de nobres motivações por parte de quem informa.
Ao longo da peça, acompanhamos Santos Ferreira (Miguel Guilherme), diretor do jornal, que, em conjunto com a diretora-adjunta Sousa Neves e outros colegas, ou melhor, camaradas de redação, lutam contra o absolutismo neo-liberal-motivacional-hashtager de Ramires Sá Saraiva (José Neves), novo CEO do jornal e rosto do antagonismo. Os protagonistas batalham para evitar o encerramento do jornal com tal compromisso, paixão, prosódia e dialética que é como se a completa integridade do ofício estivesse dependente disso.
Última Hora junta personagens de dimensão graúda e coerente, encarnadas por um elenco de excelência, numa comédia em três atos que envolve e emaranha o espectador num enredo de grande profundidade dramática, enquadrado através de uma encenação rítmica, aliciante e completa. Os temas são atuais, verossímeis e, talvez, mais pertinentes do que nunca.
A peça conta com a presença em palco de Miguel Guilherme, Maria Rueff, Nadezhda Bocharova, Paula Mora, Carlos Malvarez, Catarina Couto Sousa, Cláudio Castro, Ema Marli, Inês Cóias, João Grosso, José Neves e Manuel Coelho.
O texto é de Rui Cardoso Martins, com encenação de Gonçalo Amorim e música de The Legendary Tigerman (Paulo Furtado).
Encontra-se em cena sexta e sábado, às 20h30, e domingo, às 16h00.
Fonte da capa: Teatro Nacional D. Maria II
Artigo revisto por João Nuno Sousa
AUTORIA
Aluno de mestrado em Audiovisual e Multimédia na ESCS. Trabalhei 1 ano como editor de vídeo e assistente de realização, e embora a paixão se mantenha, em 2020 comecei a expandir conhecimentos para seguir os meus objetivos de escrever guiões e ensinar escrita de argumento. Comecei a trabalhar como estagiário na SP Televisão. Mas foi desde jovem, na paz da Beira Interior, que criei uma grande afinidade por histórias, filmes, artes e cultura.