Um recanto inglês
Em plena Lisboa, do outro lado da estrada, mesmo ao lado do Jardim da Estrela, encontra-se um dos recantos mais discretos e espantosos da cidade. É o Cemitério dos Ingleses.
Rodeado de muros altos, com um portão sempre encostado e uma barreira de árvores das mais variadas espécies, que transforma o sítio num autêntico jardim, este é um local que passa despercebido à maioria das pessoas que com ele se cruza diariamente. Do outro lado dos portões, ergue-se um lugar recheado de memórias, sendo o seu primeiro marco datado de 1724. Trata-se de um espaço que foi criado com o propósito de acolher os ingleses que viriam a perder a vida em Portugal, uma vez que os anglicanos não podiam ter como destino os cemitérios portugueses, até determinada data. Com o tempo, este lugar foi crescendo e ganhando novos propósitos, tendo chegado a acolher uma comunidade britânica, que tinha ao seu dispor uma igreja, uma escola e um hospital, entre outros edifícios. Atualmente, estes edifícios encontram-se desativados, à excepção da igreja e da casa paroquial.
É aqui que se encontram sepultadas personalidades como Henry Fielding, autor do clássico romance Tom Jones, que teve como última obra Diário de uma viagem a Lisboa. Reflexo de uma comunidade fixada em Portugal, encontram-se inúmeros nomes portugueses entre as memórias, sendo possível encontrar um Esparteiro, um Carvalho, ou até mesmo um Pessoa com alguma facilidade. Além dos poéticos epitáfios ou das esculturas monumentais que lá se encontram, figuram ainda outro tipo homenagens menos comuns, como árvores plantadas ou bancos de jardim com os nomes dos homenageados.
Mas, à margem da origem deste espaço, é possível encontrar um jardim romântico anterior ao próprio Jardim da Estrela, onde o passado se cruza com o presente e onde a tranquilidade impera. Entre dragoeiros centenários, jacarandás e ciprestes, erguem-se corredores de arbustos, tapetados com musgo, indicadores do seu muito tempo de existência. Com este cenário, facilmente se esquece do verdadeiro propósito do local, precioso demais para ser esquecido. Para os mais atentos, é ainda possível conhecer os simpáticos gatos que tão bem conhecem o local e, por vezes, até acompanham os visitantes.
Aberto todos os dias excepto ao sábado, das 10h30m às 13h, é possível entrar neste que é um dos recantos mais bem escondidos e preservados da nossa capital.
AUTORIA
Estudante de Relações Públicas e Comunicação Empresarial, é um apaixonado pela ESCS e não passa lá mais tempo porque o segurança não deixa. Ainda assim, tem outras paixões além da escsiana, pelo que também adora a fotografia e a escrita. Sempre que pode escreve umas coisas, seja para levar os outros a reflectir ou para lhes dar a conhecer outras realidades até então desconhecidas. Lisboeta por vocação, procura redescobrir esta fantástica cidade sempre que lhe é possível.