Under the Sun (2015) : A verdade por baixo do sol norte-coreano
Slides com fotos de uma rapariga, mostrando o seu crescimento, num pano de fundo irreal. Uma janela coberta por duas cortinas que são abertas. A palavra “Ação!”, seguida pelo discurso da menina das fotos: “O meu pai diz: A Coreia é o país mais bonito da parte oriental do globo. A Coreia é a terra do sol nascente “. É desta forma que o documentário Under the Sun começa.
Under the Sun acompanha a vida de Zin-Mi, uma rapariga norte-coreana preparada para se juntar à União das Crianças da Coreia do Norte, ao mesmo tempo que mostra o controlo norte-coreano na rodagem do documentário.
Certos momentos são tão mirabolantes e estapafúrdios que provocam o riso. Mesmo sabendo que é o que acontece realmente na Coreia do Norte, é difícil de manter a seriedade, uma vez que é difícil aceitar que a liberdade de expressão e de pensamento está tão restringida até aquele ponto. No entanto, às vezes, a verdade é tão real que nem o riso consegue disfarçar o desconforto gerado pelas imagens captadas.
É graças ao trabalho da produção russa do filme (que conseguiu contrabandear filmagens não aprovadas) e ao trabalho do realizador Vitaly Manskiy, que é nos possível ver, por detrás da propaganda política, a verdade da vida na Coreia do Norte.
As cenas nas fábricas de vestuário (no qual o pai de Zin-Mi “trabalha” – o documentário alerta-nos para o verdadeiro trabalho, o de jornalista, no primeiro contacto com a família) e na fábrica de leite de soja (o mesmo que aconteceu com o pai, aconteceu com a mãe que, realmente, trabalha numa cafetaria) são as cenas no qual o controlo do regime pode ser melhor vislumbrado. Uma simples entrada no autocarro é calculada ao milímetro. Cada gesto, cada fala, está presente num guião. Mas basta um simples vislumbre do olhar dos intervenientes para sabermos que aquilo tudo não passa de uma ilusão.
O momento mais impactante do filme é quando a quebra da ilusão é mais visível. Face a um ensaio de dança que não corre muito bem para a protagonista, ela começa a chorar e o seu choro mostra a realidade nua e crua do que é viver naquele país e tentar cumprir as expectativas geradas pelo regime.
O único grande problema do filme é, sem dúvida, a lentidão com que se desenrola, tirando um pouco o impacto de algumas cenas, mas face à curiosidade gerada, é algo que não disturba a experiência cinematográfica.
A banda sonora de Karlis Auzans é simplesmente de quebrar o coração. Consegue transmitir a realidade de uma forma muito mais reveladora do que as imagens permitem mostrar.
Os olhos são os maiores protagonistas do filme, pois é através destes que a verdade é revelada.
Sem dúvida, Under the Sun é um documentário imperdível que ilumina o espetador acerca da vida na Coreia do Norte. Ninguém consegue ficar indiferente às imagens mostradas.