Música

Vira o disco e toca o mesmo, mas ainda bem!

Passados dois anos do lançamento do último álbum, os diabos saltaram da cruz e vieram dançar. O homónimo “Diabo na Cruz” chegou para pôr o mês de Novembro menos frio e mais festivo. A banda, que já nos havia contemplado com os temas “Vida de Estrada” e “Ganhar o Dia”, faz-nos ganhar o dia lançando o seu terceiro álbum de estúdio.

Quem conhece os Diabo na Cruz sabe que os seus arranjos são uma mistura de música popular portuguesa com um rock bem mexido e conciso. No entanto, neste LP, a banda lançou-se para caminhos mais electrónicos e focou-se numa sonoridade muito mais “despreocupada”. Nada muito exagerado; diria mesmo a dose necessária. Mais pianos, mais sintetizadores, mais experiências. A mesma sonoridade e a mesma vontade de arriscar e de pôr o contemporâneo no velho.

A componente lírica deste CD é, nada mais, nada menos, do que aquilo a que o vocalista, Jorge Cruz, nos tem vindo a habituar. Com um carácter garrido e sempre a debitar letras a torto e a direito. Letras, essas, que são algo refrescante e contrariam toda aquela futilidade a que a música pop nos tem vindo a habituar. Quem nunca ouviu Diabo na Cruz pode pensar que a parte vocal se vai cingir às banalidades de bandas com sonoridade semelhante. Enganem-se. Juntar o poeta à vontade de dançar, sempre foi a vertente dos Diabo na Cruz. E neste álbum a coisa não é diferente.

Numa primeira audição é difícil desprendermo-nos dos dois singles previamente lançados. Mas, uma vez passada essa barreira, vemos que este CD é muito mais do que essas duas faixas. Não é um álbum que nos cative por completo instantaneamente. Não dizendo com isto que é um mau álbum, longe disso, é um álbum que vai crescendo e crescendo à medida que o ouvimos. Podemos dizer que é um uma longa-metragem sonora mais discreta do que o “Virou” de 2009 e mais espevitada do que o “Roque Popular” de 2012. O facto de este ser um homónimo vem comprovar que a banda está cada vez mais consciente da sua identidade. São os Diabo na Cruz a tocar Diabo na Cruz, e é esta melhor explicação que consigo encontrar para este álbum.

Debaixo da sombra de um chaparro é como nos podemos sentir quando ouvimos temas como “Ó Luar” e “Azurvinha”, que contam com o típico cântico alentejano. “Mó de Cima”, “Verde Milho” e “Moça Esquiva” são as faixas que vão estar constantemente em modo repetição. Não só pela qualidade mas também pela diferença que marcam no álbum.

Há uma mudança sonora neste CD mas não a mudança drástica que  encontramos quando as bandas progridem ao longo da carreira. Há, sim, uns novos Diabo na Cruz, que são apenas o reflexo mais aprofundado daquilo que a banda já expressava, continuando a ser a prova viva de que a música portuguesa está bem e recomenda-se.

diabo