Eleições legislativas: um ano de interregno
Um ano de interregno, sim. É esse, na minha opinião, o resultado das eleições legislativas do passado dia 4 de outubro. Porquê? Já lá iremos. Contudo, quero começar este artigo por identificar aqueles que, no meu entender, são os grandes vencedores e derrotados do ato eleitoral do passado domingo.
Primeiro, e penso que é consensual dizê-lo, a coligação PaF (PSD/CDS) foi o inequívoco vencedor. Apesar de uma queda de quase 15 pontos percentuais, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas conseguiram fazer aquilo que há um ano era impensável: ganhar as eleições legislativas. Se esta vitória tem uma grande quota parte de culpa do Partido Socialista? Sim, sem dúvida, mas isso pouco importa.
Pedro Passos Coelho, à esquerda, e Paulo Portas, à direita, foram os grandes vencedores das eleições legislativas do passado Domingo. (Fonte: Facebook Oficial do Partido Social Democrata)
Em segundo lugar, e penso que não causará grande espanto, o Bloco de Esquerda foi outro dos grandes vencedores da noite. O partido, liderado por Catarina Martins, que muitos pensaram, inclusive, estar perto do fim, conseguiu duplicar as intenções de voto e alcançar, assim, 19 deputados. Os bloquistas afirmam-se, desta forma, como a 3ª força política do panorama nacional.
Mariana Mortágua, à esquerda da imagem, e Catarina Martins, à direita da imagem, foram duas das grandes obreiras do excelente resultado do Bloco de Esquerda. (Fonte: Facebook Oficial de Catarina Martins)
Identificados quem são os grandes vencedores, passemos àqueles que foram os grandes derrotados da noite. Embora em escalas completamente diferentes, o Partido Socialista e o Livre/Tempo de Avançar viram as suas expectativas completamente frustradas.
O PS, liderado por António Costa, registou uma subida de 4 pontos percentuais relativamente às últimas eleições. No entanto, os resultados alcançados estão longe de serem satisfatórios. Fazendo uma comparação com a PaF, o PS conseguiu fazer aquilo que há um ano era impensável: perder as eleições. De resto, Costa afirmou com toda a confiança que “obviamente” não se demite. O Partido Socialista terá agora de tirar as devidas ilações deste péssimo resultado.
António Costa, na imagem, acabou por ser o grande derrotado das eleições legislativas. (Fonte: Facebook Oficial do Partido Socialista)
O Livre/Tempo de Avançar, liderado por Rui Tavares, que, segundo a sondagem da Universidade Católica para a RTP, tinha assegurado a eleição de um deputado, acabou por não o conseguir. Rui Tavares, Ana Drago, Daniel Oliveira, entre muitos outros, acabaram por ver o seu anterior partido, o Bloco de Esquerda, afirmar-se no panorama político nacional.
Rui Tavares, na imagem, foi outros dos grandes derrotados da noite. (Fonte: Facebook Oficial do Livre/Tempo de Avançar)
Mas voltando ao início do artigo, estas eleições marcam um ano de interregno. Passo a explicar: ora vejamos, a coligação PaF, apesar da vitória, ficou longe da tão desejada maioria absoluta; o PS, que mesmo coligado com o bloco de esquerda, fica igualmente longe desse objetivo. Apesar do que se tem dito e escrito, coloco o Partido Comunista longe de todas estas contas.
Posto isto, e concluindo que nenhum grupo parlamentar ou coligação alcançou o objetivo da maioria absoluta, junta-se ainda o facto de o atual Presidente da República, Cavaco Silva, se encontrar no final do mandato e ver, assim, os seus poderes reduzidos (não pode dissolver a AR), bem como o futuro PR (muito possivelmente Marcelo Rebelo de Sousa) não o poder fazer igualmente nos primeiros 6 meses do seu mandato. Toda esta situação faz com que, como disse no início do artigo, só possa haver eleições por volta de Junho/Julho dando origem, assim, a um ano de interregno.