Cinema e Televisão

Kimi No Na Wa. (Your Name.), por Makoto Shinkai

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“Kataware-doki” é uma velha expressão que pode conter uma miríade de significados, como ‘Quem é aquela pessoa?’ ou até mesmo “crepúsculo”, momento temporal quando não é de dia nem de noite, quando a visão do mundo já não é nítida, quando temos a chance de encontrar algo sobrenatural.
Musubi remete para o poder dos deuses ou a arte de entrelaçar. Está presente em qualquer lugar e em tudo o que fazemos, desde os processos mais simples e triviais que se possam imaginar até às relações que estabelecemos uns com os outros. O mundo em que vivemos é complexo, profundo. Torcem-se os cordéis, emaranham-se, desemaranham-se, e voltam a conectar-se mais uma vez: são uma representação do tempo; são musubi.

Dirigido por Makoto Shinkai e com uma espetacular nota de 9.37 no MyAnimeList, o mais famoso site a nível do ranking de produções japonesas, Kimi No Na Wa levou o mundo inteiro ao rubro, esgotando bilheteiras aquando a sua primeira reprodução. Até este momento mantém a liderança. E é fácil entender o porquê, já que conta com uma rica qualidade de animação, banda sonora, e a história revela ser complexa e cativante.
Ao longo desta viagem, acompanhamos Mitsuha Miyamizu, uma simples rapariga da vila rural de Itomori, e Taki Tachibana, um rapaz moderno que vive na agitada e populosa cidade de Tokyo. Desde já se nota o contraste entre as duas personagens, o que irá proporcionar divertidas cenas e a construção de um ambiente leve (por enquanto). Se há algo que este filme nos ensina é que os nossos sonhos se podem tornar realidade e que, consequentemente, devemos ter cuidado com aquilo que desejamos. Os protagonistas irão aprender a lição: farta de estar isolada do mundo e ansiando por uma vida mais ativa, Mitsuha reza para que, numa próxima vida, reencarne como um bonito rapaz de Tokyo. As suas preces são ouvidas, pois no dia seguinte acorda num corpo que não é o seu mas sim o de Taki, que acaba sendo arrastado para esta confusão sem saber exatamente o porquê. O conceito de sonho e realidade misturam-se e, a certo ponto, torna-se difícil distinguir o preto do branco.
É necessário frisar que este arcano acontecimento só irá ocorrer intercaladamente, obrigando as personagens a confrontarem-se com os erros que cometem, a assumirem responsabilidade pelos mesmos, e, mais importante ainda, a adaptarem-se a uma vida completamente diferente daquela a que estavam habituadas. Determinados a descobrir a causa por trás deste evento, Mitsuha e Taki começam a deixar mensagens um para o outro através de rascunhos em cadernos diários e da utilização do telemóvel para registrar o sucedido em determinado dia.
Esta estranha experiência contribui para o reforço dos laços que criaram e, nesse sentido, acabam por formar uma estranha e profunda amizade, até que um dia algo muda. Já não ocorre a estranha troca de corpos, e Taki não volta a receber notícias de Mitsuha. Empenhado em resolver este mistério, Taki parte em busca de Mitsuha por um Japão rural e recebe uma notícia que irá alterar todo o sentido da história e representar um verdadeiro peso nos ombros do rapaz: Itomori já não existia. A queda do Cometa Tiamat há três anos tinha aniquilado por completo aquela região.

Embora partindo de uma premissa cliché, esta obra-prima rapidamente mudará de rumo, outrora ligeiro, utilizando o drama como a carta mais poderosa do baralho. Será ainda capaz de proporcionar momentos de surpresa, dadas as voltas e reviravoltas que caracterizam a sua índole, bem como pausas para a exigida reflexão sobre uma panóplia de temáticas. Posso garantir que, apesar de ser bastante agradável se só for visto uma vez, só vão encontrar as peças que faltam para o total entendimento do filme e da verdadeira mensagem que pretende transmitir se o assistirem novamente.
Uma última nota: não se preocupem com o choque cultural e linguístico que este filme vos possa proporcionar. Ele foi feito a pensar numa audiência mais abrangente e, por isso, faz um perfeito trabalho aquando a explicação de simbologias pertinentes para o entendimento da trama. A vossa única tarefa será conectar os pontos.