“O mundo fantástico de Paula Rego”
A arte de contar histórias é transversal a uma mãe ou a um pai no fim da noite, ao responsável no jardim de infância, ao jornalista, ao publicitário e ao artista.
Assim, Paula Rego, uma das mais conhecidas contadoras de histórias portuguesas, move as obras da sua casa ( Casa das histórias de Paula Rego, em Cascais ) e escolhe o Colombo para encantar mais que crianças crescidas com insónias.
“O mundo fantástico de Paula Rego” está exposto na praça central do Colombo, permitindo que qualquer transeunte aproveite para conhecer ou relembrar algumas histórias. Jane Eyre, “Príncipe Porco”, o Pinóquio, “Quarto de Shakespeare” e “A Gata Branca” . Estas histórias organizam-se por séries onde a litografia é predominante, tal como as malhas, cuja expressividade varia consoante a temática abordada. Algo observável numa comparação entre a série do “Príncipe Porco” e “Quarto de Shakespeare”. Enquanto a primeira apresenta um traçado limpo e contínuo, o segundo mostra-se mais inconstante, transmitindo a agitação da história das mulheres daquela família; uma obra em que se observa a loucura, o desespero e a empatia no rosto da figura feminina. Também a personalização dos macacos, através de vestes humanas, além de conferir mais agitação e estranheza, enriquece o esquema cromático da série, sendo das presentes aquela que apresenta maior vivacidade.
O espaço de exposição está organizado numa trifurcação, permitindo a entrada através de todas as salas. No entanto, é a sala onde se encontra a série Jane Eyre que mais se destaca pela quantidade de obras. Composta por um conjunto de 25 obras em litografia, a série é rica em contrastes na sua estética e na sua génese ― o branco da folha com manchas e malhas a negro numa constante batalha entre luz e sombra; a história de Jane e Bertha, que, mesmo com uma infância conturbada, adotaram posturas opostas na vida, tendo Bertha sucumbido à loucura e Jane vivido contida e disciplinada.
Como obra central, temos “A Fada Azul”, a pastel de óleo numa dimensão imponente, transpondo para uma dimensão sombria, abordando mais que uma história já conhecida, um assunto controverso e recorrente nas obras da artista. O tato e a audição são pontos fulcrais da peça, transmitindo a invasão do espaço do boneco de madeira, agora já de carne e osso, pela Fada. Os seus punhos cerrados transmitem não felicidade mas um desconforto e pânico. Há medo. As figuras destacam -se do cenário, mesmo apesar de a escala cromática enfatizar o que há de errado naquele ato, toque e palavras.
“Quem conta um conto, acrescenta um ponto” , por isso atreva-se a conhecer novas velhas histórias na perspetiva de Paula Rego até dia 27 de Setembro, com entrada gratuita.