Era uma vez um eucalipto
Esta crónica é escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico
Assunção Cristas. O que dizer sobre a atual líder do CDS-PP que ainda não tenha sido dito? 13ª apóstola de Cristo? Fã incondicional da modalidade “assinar documentos sem os ler”? E que tal ministra do eucalipto? Sim, que grande tirada, João! É isso mesmo… O quê? Já lhe chamaram isso? Parece que vou ter de me reduzir a clone do Julian Casablancas. Enfim…
Reza a história dos factos que em 2013, enquanto Ministra da Agricultura e do Mar no Governo de Pedro Passos Coelho, Assunção Cristas reverteu o Decreto-Lei nº 175/88 que punha algumas rédeas na plantação excessiva de eucalipto, pondo em prática um novo Decreto-Lei que facilitava bastante a arborização e rearborização da dita planta. Para quem não sabe, o eucalipto, assim como o pinheiro, é uma espécie exógena do nosso país. Trocando por miúdos, Portugal não possui um clima ideal para a plantação e para o crescimento sustentável de eucaliptais ou pinhais. Para além de tudo isto, o eucalipto é extremamente inflamável.
Sumarizando a situação: temos em Portugal uma cultura descontrolada, causada pela desregulação, de uma planta altamente inflamável. E a culpa? De Assunção Cristas.
Quando a ex-ministra diz que durante o tempo dela “não aconteceu nenhuma tragédia com estas dimensões” é análogo a besuntar um amigo meu com mel, mandá-lo para uma floresta no Canadá e no fim de contas divorciar-me das culpas quando a cara dele aparecer no obituário do Correio da Manhã, a dizer: “Português comido por um urso”.
Executar este tipo de políticas é ativar uma bomba-relógio. Não é particularmente importante saber quando esta explodiu. É sim relevante saber quem a ativou, quando e porquê é que o fez.
Sem provas concretas, posso conjeturar confortavelmente sobre os motivos. A penetração económica é uma patologia conhecida da classe política mundial. Portugal não é exceção. Ora, o sonho molhado de qualquer grande corporação é o da desregularização selvagem. Será que a reversão do Decreto-Lei nº175/88, que impedia a plantação excessiva de eucalipto, advém da ganância privada capaz de favorecer monetária ou politicamente a ex-ministra e/ou o ex-governo? A produção de eucalipto é extremamente rentável devido à polpa de celulose, bastante utilizada na indústria téxtil: ora, se forem porcos gananciosos não gostariam de plantar o máximo de eucaliptos possível? Mas a chata da legislação não deixa. Hmm…. o que fazer?
É mais um exemplo da hipocrisia da direita portuguesa e da falta de caráter de Assunção Cristas, sacudindo a água do seu capote, quando esta foi uma das principais propulsoras deste desastre– em Pedrogão Grande vários de hectares de eucaliptal arderam, permitindo a rápida propragação das chamas.
Peço-vos que não vos deixem enganar pela retórica populista e demagógica; parem a plantação de flora exógena. É uma má ideia replantar o Pinhal de Leiria. Vamos utilizar o sobreiro e o carvalho, árvores naturais portuguesas cuja inflamabilidade é extremamente baixa.
É mais uma prova de que só a legislação apertada regula o mercado privado. Já a ministra do eucalipto esperemos que saia de todo este processo com algumas queimaduras.
AUTORIA
João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.