Está tudo acabado entre nós, Alberto
O serviço público de televisão é um daqueles assuntos que pode estar sempre na berlinda. Há opiniões para todos os gostos e é recorrente ouvir “eu não pago um canal para eles darem isto”. Claro que todos nós pagamos a RTP, mas há aqui uma certa confusão: a RTP não existe para preencher os gostos de quem a paga. Isso seria impossível, por um lado, e, por outro, a função da RTP é garantir o serviço público por mais desinteressante que “Bem-vindos a Beirais” nos possa parecer.
O verdadeiro problema reside nas diferentes interpretações do que é o serviço público. A recente polémica sobre a compra dos direitos de transmissão da Liga dos Campeões pela módica quantia de 18 milhões de euros é um daqueles exemplos de má gestão de um bem público. Nada faz sentido nisto. Do ponto de vista económico, é impossível que este investimento tenha retorno. É o dobro daquilo que a TVI estava disposta a dar. No fundo, é o mesmo raciocínio que algumas pessoas fazem quando acabam uma relação e vêem a pessoa com quem namoraram numa nova relação: “Isto não fica assim. Posso não ficar com ela (ou ele), mas o outro (ou outra) também não vai ficar”. A tentação de prejudicar a TVI ser grande ao ponto de a RTP se prejudicar a si própria é de uma mesquinhez assustadora.
Normalmente, quando isto acontece, mesmo que a pessoa consiga acabar com a relação, não ganha nada com isso. Do ponto de vista prático, a vida dela fica igual, porque dificilmente a outra pessoa vai voltar para ela depois de ter sido prejudicada. A única coisa que consegue é deitar para fora um pouco de bílis corrosiva. No caso da RTP foi igual. A corda partiu e Alberto da Ponte, Presidente do Conselho de Administração, acabou por apresentar a demissão. No fundo, foi um “não és tu, sou eu”.
Na altura em que se falou de privatizar o segundo canal da RTP, houve mais indignação do que audiência. Eu também gostava de ter um serviço de público de televisão a funcionar como deve ser, mas, nesta altura, gostava mais ainda que não brincassem com o dinheiro público às birras passionais. Gostava só de lembrar que José Sócrates está em prisão preventiva, alegadamente, apenas por mais 2 milhões de euros. Não me entendam mal. “Isto não é o que parece”. Não estou a dizer para prenderem o Alberto da Ponte. Apenas gostava que não houvesse pessoas irresponsáveis em cargos públicos de decisão. Por isso mesmo, orgulho-me em dizer que está tudo acabado entre nós, Alberto.
AUTORIA
O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.